sábado, 23 de maio de 2009

A Fiesp tem classe e plumagem

* Gilson Reis


Em processo de turbulência, um vulcão de sinapses, um derrame de lavas em processo de codificação.


Todas as informações se cruzam num universo difuso e complexo, cada qual ao seu jeito vão gradativamente se alinhando, convergem uma a uma, num mesmo sentido, o sentido do poder real, do poder que tudo pode. O poder sem mediação ou mediado sempre pelo dinheiro, pelo poder de quem pode comprar e vender consciências, pessoas, intuições, Estados e nações.

As investigações da policia federal conduzidas pelo codinome Castelo de Areia, apontam para mais uma mega estrutura de corrupção. A construtora Camargo Correia e suas congêneres ou parcerias, fez e faz doações legais e ilegais a partidos políticos e candidatos a cargos eletivos. Conforme informações do TSE - Superior Tribunal Eleitoral, a Construtora Camargo Correia e a OAS, doaram nas eleições de 2006 a importância de 24.5 milhões de reais para candidatos e partidos políticos. Consta ainda na diplomação realizada pelo TSE que do total de candidatos financiados pelas construtoras, foi possível eleger na atual legislatura 254 Deputados Federais e 15 Senadores da Republica.

Mas como funciona? Quem opera o esquema? Como é realizado o repasse? Conforme escutas telefônicas realizadas pela Policia Federal no processo de investigação, um dos operadores do esquema de transferências de recursos, por fora e por dentro, ou seja, legal ou ilegal é o Presidente da toda poderosa Fiesp – Federação das Industrias do Estado de São Paulo. Conforme Paulo Scaf, em entrevista a Rede Globo “nós sugerimos e as empresas se dispõem a dar apoio a partidos e parlamentares que defendem o interesse da indústria”. Ao analisar quais partidos e parlamentares são sugeridos pelo Presidente da Fiesp como defensores da industria paulista, chegamos a duas agremiações: PSDB e DEM. Somente na ultima eleição para a prefeitura de São Paulo a construtora Camargo Correia destinou 3 milhões de reais ao Prefeito Gilberto Kassab.

Eleger o candidato do Tucano José Serra para governar a maior cidade do Brasil e o terceiro orçamento do país é sem duvida afirmar de qual lado está e estará a Fiesp e seus múltiplos esquemas de poder na disputa de 2010. Eleger 269 parlamentares é impor qual reforma trabalhista que atende aos interesses das indústrias; qual reforma tributaria atende aos interesses do capital, qual reforma previdenciária precisa ser feita para atender aos interesses da banca nacional e internacional. O esquema mostra com clareza o que precisa ser feito para manter tudo do jeito que está, um país dividido não em partes iguais. De um lado uma pequena parcela de milionários do outro uma larga maioria de miseráveis. A minoria branca da avenida paulista impõe cotidianamente sua lógica de poder através do acúmulo insaciável de riqueza e poder. Ganham com os títulos da divida publica federal, ganham com a realização de obras e ganham em negociatas para manter seus negócios e a estrutura de poder intocável.

Um fato não muito percebido pela maioria é que a construtora Camargo Correia e a OAS são duas grandes construtoras brasileira, mas não as únicas e que coincidentemente estão à frente das principais obras desenvolvidas pelos governos de São Paulo e Minas Gerais. Em São Paulo constituiu a Via Amarela, responsável pela principal obra em execução no Estado, a linha quatro do metro. Ainda, em São Paulo, as duas empresas são detentoras da Companhia de concessões rodoviárias, constituída no processo de privatização tucana e que hoje administra as principais rodovias do estado, dentre essas a principal estrada brasileira: a Via Dutra. Em minas Gerais, as duas principais obras executada ou em execução no atual governo tucano, a Linha verde e o centro administrativo estão em mãos das mesmas construtoras. Mas, possivelmente os esquemas tucano, demo, Fiesp, construtoras estão por além das fronteiras do sudeste e com certeza enraizados por todo o território nacional.

A imprensa nacional que também é parte deste esquema de poder e corrupção começou imediatamente a levantar suspeitas em torno das obras do PAC - programa de aceleração do crescimento, desenvolvida pelo Governo Federal. Possivelmente deverá aparecer algum problema envolvendo uma ou outra obra, o que seria nestas circunstancias uma maneira de atacar o governo Lula. Outra possibilidade será de retirar dos noticiários esta nova operação da policia federal, pois desta forma estaria protegendo os esquemas do super poder. Estas elites sabem perfeitamente o que precisa ser preservado para manter: o projeto político, o poder político e o comando político. Todo esse esquema passa pela estrutura de poder paralelo montado há quinze anos pelos tucanos de São Paulo e tem como um dos pilares as construtoras Camargo Correia e OAS.

A explicitação pública deste esquema, desnuda, desmancha, cai como um castelo de areia sobre alguns setores da sociedade brasileira que acreditavam na possibilidade de constituir um novo pacto político, ou um novo projeto de desenvolvimento nacional, articulado com amplos setores empresariais. Esta visão partia do pressuposto que a luta pela redução dos juros, que toda a sociedade defende, inclusive os setores empresariais e suas federações, seria o fator incontestável desta possível aproximação. O Presidente da Fiesp em tom muito claro, afirma e confirma a existência de lados na disputa pelo governo do Brasil em 2010. O lado da Fiesp será o lado da Camargo Correia, que é o lado do Tucanato, que estará ao lado dos demos e de outros agrupamentos políticos, que hoje fazem oposição ao governo Lula. A visão idealista destes setores, não reconhece e não estabelece mediação alguma entre os interesses de classes, amplamente difundida e fundida no interior da sociedade brasileira. Paulo Scaf, FHC, Gilmar Mendes, Jose Serra, Agripino Maia, Aécio Neves sabem perfeitamente quem são, de onde vem e o que representam nesta construção histórica da política brasileira. Objetivamente sabem que em última instância a sociedade capitalista é dividida em classes e nesse terreno não brincam em hipótese alguma.

A operação castelo de areia, mais uma das dezenas desenvolvidas pela policia federal continua a ser atacada pela elite conservadora. Novamente saem em defesa dos pobres diretores da construtora Camargo Correia. A justiça, em instãncia superior, da mesma maneira titubeia, libera em tempo recorde o alvará de soltura dos envolvidos no esquema de corrupção. Tentam de forma desesperada colocar no banco de réu o delegado Protógenes, pelo fato de trabalhar em investigações envolvendo os famosos colarinhos brancos, de esquemas envolvendo personagens como o banqueiro Daniel Dantas, o rei da privataria tucana.

É nesse cenário de disputa pelos rumos do Brasil, envolto a uma profunda crise do capitalismo que devemos situar os campos que dividem a classe trabalhadora do capital. Eventualmente é possível até avançar em alguns extratos da burguesia industrial e comercial, pois existem muitos conflitos de interesses entre as classes dominantes. Entretanto, não podemos em hipótese alguma confiar que o Presidente da Fiesp ou mesmo da Fiemg estarão imbuídos na construção de um projeto de desenvolvimento com valorização do trabalho. Paulo Scaf com classe confirmou a sua classe e com plumas e paetês mostrou a plumagem de tucano que cultiva de forma ativa.

*Gilson Reis, Presidente do Sinpro - MG - Sindicato dos Professores e dirigente nacional da CSC.
Texto: por Gilson Reis/Carta Maior

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