quarta-feira, 2 de maio de 2012

Dilma se reúne com aliados para debater queda dos juros

Dois dias depois de defender em cadeia nacional de TV a redução dos juros, a presidente Dilma Rousseff reúne nesta quarta (2) os líderes dos partidos governistas para discutir medidas econômicas que permitam baixar ainda mais as taxas bancárias e pode incluir na discussão mudanças na remuneração da caderneta de poupança.

Dilma definiu como estratégia de seu governo reduzir os juros reais da economia para no máximo 2% ao ano até o fim de seu mandato. Para atingir essa meta podem ocorrer alterações no rendimento da aplicação mais popular do país; a poupança.

Em pronunciamento de TV e rádio nesta segunda (30), Dilma acusou uma "lógica perversa" do setor financeiro e cobrou redução dos juros pelos bancos privados. Segundo assessores, na reunião desta quarta no Palácio do Planalto ela pretende "preparar o terreno" para tratar das mudanças na poupança. Um assessor presidencial disse ao jornal Folha de S.Paulo que ela quer discutir o assunto com seus aliados.

Atualmente, os juros reais — taxa do Banco Central, descontada a inflação — no Brasil estão em 3,3% ao ano, nível mais baixo desde o início dos anos 1990. Apesar de próximo ao piso de 2% ao ano desejado por Dilma, as reduções a partir do patamar atual são mais difíceis por esbarrarem em problemas estruturais — um deles, a remuneração da caderneta de poupança.

Fixado em lei, o rendimento mínimo da poupança equivale à variação da TR (Taxa Referencial) mais 6,17% ao ano, funcionando como um piso para a taxa de juros. Se a taxa básica do BC, hoje em 9% ao ano, ficar próxima do rendimento da poupança, aplicações como fundo de investimento ficariam menos rentáveis que a caderneta porque pagam Imposto de Renda e taxa administrativa.

Isso provocaria fuga de recursos para a poupança, criando problemas para os bancos e dificuldades para o governo financiar sua dívida. Alguns líderes governistas, porém, estão aconselhando Dilma a deixar a mudança para depois das eleições. Há um grupo dentro do governo e também no Congresso que defende que a presidente enfrente o tema já.

Técnicos preparam o que está sendo chamado de uma "nova modalidade de poupança", que seria apresentada para a sociedade como um investimento que poderia até render mais do que a atual e abriria espaço para uma queda mais acentuada dos juros. Alguns nomes são citados por assessores, como "poupança flex" ou "poupança ouro".

Lógica perversa

Um dia depois de Dilma Rousseff acusar a "lógica perversa" do setor financeiro em pronunciamento de rádio e TV, o ministro Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral) afirmou que o governo não declarou guerra ao sistema financeiro.

"Não se trata de guerra. Se trata de convencer o sistema financeiro de que cada um tem que dar a sua cota para que o Brasil sobreviva num momento de crise", afirmou nesta terça (1º/5), após participar das duas festas de Primeiro de Maio organizadas pelas principais centrais sindicais em São Paulo.

"Não tem guerra. Tem é um convencimento, a partir do exemplo dos bancos estatais, para que o juro caia em todo o mercado", acrescentou. O ministro reforçou que o governo espera que os bancos acelerem a redução das taxas ao consumidor e às empresas para que o Brasil "deixe de ser o país que cobra os juros mais altos do mundo".

Ele afirmou que o discurso demonstrou "o empenho e a determinação da presidente em reduzir o custo do financiamento da produção". "Era fundamental que ela fizesse um pronunciamento para deixar clara a posição do governo”.

Segundo Carvalho, o governo busca impulsionar o crescimento via crédito. "Se trata de uma indução para que a economia cresça, o crédito seja barato e o país continue a rodar nesta mesma intensidade", afirmou.

No pronunciamento desta segunda (30), Dilma usou a expressão "lógica perversa" para criticar os juros cobrados ao consumidor. Carvalho disse que a presidente se referia ao spread bancário, a diferença entre o custo de captação de recursos pelos bancos e o valor cobrado para emprestar ao consumidor.

Segundo dados do Banco Central, em março, o spread (ou diferença) chegou a 176 pontos percentuais nos juros cobrados no cheque especial. Em média, os bancos captaram recursos com taxa de juros próxima a 9% ao ano e emprestaram a 185% ao ano.

Centrais

A crítica de Dilma ao sistema financeiro privado ganhou respaldo e elogios de sindicalistas durante as festas do Dia do Trabalhador. Os dirigentes das centrais sindicais se reúnem nesta quinta-feira (3) com a presidente para discutir os juros bancários.


Informações da Folha de S.Paulo

Fonte: Portal Vermelho

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