sexta-feira, 30 de março de 2012

CTB participa de ato público no Senado em defesa do PL da Igualdade




Antecedendo o 1º Encontro Nacional da Mulher Trabalhadora da CTB, sindicalistas de diversos estados brasileiros se dirigiram a Brasília, nesta quinta-feira (29), para participar de um ato público em defesa da Igualdade, no Senado Federal. O objetivo da atividade foi vencer as resistências à aprovação dos Projetos de Lei, que versam sobre o tema, parados no Congresso Nacional.


Diversos parlamentares participaram do evento quando manifestaram solidariedade e compromisso com a luta das mulheres por garantias de igualdade no mundo do trabalho.A deputada Alice Portugal (PCdoB-BA), autora do projeto na Câmara, explicou as manifestantes o compromisso em votar o projeto que cria uma política de impulsão para que as mulheres tenham salário igual ao dos homens na mesma função.


Ela admite que o projeto tem sofrido resistência de alguns segmentos empresariais e políticos do país e do Congresso Nacional. Há dois anos tramitando na Câmara, o texto original já sofreu alterações com a retirada da multa prevista para as empresas que descumprirem a lei. Segundo a parlamentar, agora existem manobras para retirar o cadastro dos que descumprirem o regulamento.


E explicou que o projeto ficará apenas com a obrigatoriedade das empresas de criarem uma comissão para garantir que as mulheres não sofram discriminação. Alice avalia que é pouco diante do projeto original, mas é um avanço diante da realidade que coloca um grupo significativo de mulheres trabalhadoras com remuneração de 70% do que ganham os homens em igual função.“Nós mulheres, somos a primeira a acordar e a última a dormir, com uma jornada tripla de trabalho, e desta forma precisamos ser reconhecidas e que tenhamos voz e vez, cada vez mais, na história brasileira”, disse Alice, parabenizando a manifestação das mulheres que, segundo ela, ajuda a pressionar os líderes partidários para que se definam pela votação do projeto.


A senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), que também participou do evento, confirmou as palavras da colega parlamentar, lembrando que no último dia 8 de março uma lei com o mesmo conteúdo tinha sido aprovada no Senado para sanção pela Presidente Dilma Rousseff na solenidade de entrega do Prêmio Bertha Lutz. Uma manobra dos representantes do empresariado impediu a sanção da lei, obrigando votação do projeto no Plenário do Senado, o que até agora não aconteceu.Para acelerar a aprovação da matéria, o senador Inácio Arruda (PCdoB-CE) apresentou um projeto de lei com o mesmo conteúdo para apreciação no Senado.


O representante do senador no evento, José Roberto Fonseca, disse que Inácio pretende apresentar projeto semelhante também no Parlamento do Mercosul (Parlasul), onde é membro. A proposta é que os países membros – Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai - adotem legislação que puna os empresários que fizerem distinção no pagamento de salário às mulheres.Para Raimunda Gomes, a Doquinha, secretária da Mulher Trabalhadora da CTB, “precisamos inserir a pauta das mulheres na discussão política. Precisamos marcar presença e estarmos alertas para ocuparmos os espaços. Porque só com muita divulgação e mobilização conseguiremos a aprovação dos projetos, que encontra resistência em diversas bancadas no Congresso Nacional ”.


O Março Mulher é o evento ocorrido durante todo o mês de março, quando se comemora do Dia Internacional da Mulher, reunindo as cinco centrais sindicais – Força Sindical, CTB, CGTB, Nova Central e UGT - no Fórum Nacional das Mulheres Trabalhadoras. “Uma composição autônoma que encerra nesta quinta-feira uma etapa e começa outro momento com mais e maiores manifestações a serem realizadas durante este ano”, explicou Doquinha.


E para encerrar o Março Mulher, cetebistas de todo Brasil participam nesta sexta-feira e sábado (30 e 31) do 1º Encontro Nacional da Mulher Trabalhadora da CTB, também em Brasília. Voltado para secretárias das mulheres das seções estaduais e dirigentes de entidades filiadas, o encontro pretende reunir centena de participantes para debater eixos de lutas e estratégias que girem em torno do "Desenvolvimento, Autonomia e Igualdade"."Esse encontro será um momento importante de articulação e aprofundamento das bandeiras de luta da central. O diálogo direto com os estados pretende unificar ainda mais as lideranças do movimento sindical da cidade e do campo", destacou Doquinha.

Anistia denuncia EUA por abusos aos direitos humanos



Portal Vermelho


A organização de defesa dos direitos humanos revela em relatório publicado nesta semana os abusos cometidos com vítimas de crimes e o tratamento discriminatório dado às comunidades que vivem ao longo da fronteira entre os Estados Unidos e o México.As comunidades que vivem à margem da fronteira entre o México e os Estados Unidos, na sua maioria composta de indivíduos com perfilo racial latino, estão sendo discriminadas e desproporcionalmente afetadas por uma série de medidas imigratórias impostas pelo governo americano, o que caracterizaria uma violação aos direitos humanos, de acordo com um relatório da Anisitia Internacional, divulgado na quarta-feira (28).


O relatório, chamado Terreno Hostil: Violações aos Direitos Humanos na Fiscalização Imigratória no Sudoeste Americano, destaca falhas crônicas na atuação das autoridades federais, estaduais e municipais, no sentido de fiscalizar e fazer cumprir as leis imigratórias de forma desvinculada à discriminação racial.Entre outras denúncias, o relatório mostra que os EUA têm falhado nas suas obrigações de respeitar o direito dos imigrantes à vida, de assegurar o direito à justiça aos imigrantes vítimas de crimes em especial mulheres e crianças e de reconhecer o direito de comunidades indígenas cruzarem livremente a fronteira.


De acordo como o governo americano, cerca de 14.500 a 17.500 pessoas são traficadas por ano para os Estados Unidos, para serem exploradas laboral ou sexualmente. Entretanto, as falhas no sistema deixam as vítimas do tráfico sem nenhuma espécie de ajuda, além de sofrerem com prisões e deportações. Dos 5.000 vistos ‘T’ disponíveis anualmente para vítimas de tráfico humano, somente 6% são usados, segundo o relatório.


A cultura imigratória nos Estados Unidos criou uma distorção as vítimas sobreviventes do tráfico e de outro crimes, como por exemplo a violência doméstica, estão sendo encaradas como criminosos, e não como vítimas, disse Justin Mazzola, pesquisador da Anistia Internacional e principal autor do texto do relatório. Ao mesmo tempo, menos pessoas se dispõem a denunciar tais crimes, por medo de se exporem à repressão imigratória. Além disso, muitos julgam que a polícia não pode ou não quer prestar ajuda.


Carolina, uma hondurenha que foi trazida aos EUA depois de ter sido repetidamente vendida como mercadoria sexual, além de explorada e drogada, ficou seis meses detida em Persall, Texas, depois que agentes da imigração a encontraram na mala de um carro que cruzava a fronteira entre EUA e México. Enquanto esteve presa, as autoridades negaram-lhe a condição de vítima de tráfico humano, porque ela inicialmente teria vindo voluntariamente para cá, antes de ter sido explorada como mercadoria humana.


Somente depois de uma revisão do caso, em fevereiro de 2011, mais de dois anos depois dela ter sido presa, que o visto de vítima de tráfico de Carolina foi aprovado, permitindo que ela permaneça nos EUA e tenha direito a tratamento psicológico. "Agora, posso finalmente começar a me curar", disse Carolina depois de ter sido liberada.Em dez anos Muro do Império matou 9 vezes mais que o de Berlim.


Medidas de controle imigratório estão cada vez mais colocando em risco o direito à vida dos indivíduos que tentam atravessar a fronteira. A política imigratória faz com que os imigrantes desviem-se dos pontos tradicionais de entrada, buscando terrenos cada vez mais inóspitos para cruzar a fronteira, incluindo rios, desertos e montanhas. De 1998 a 2008, um total de 5.287 imigrantes morreram tentando cruzar a fronteira EUA-México.


O relatório revela ainda que as comunidades indígenas têm sofrido discriminação e abusos por causa das políticas imigratórias. O território desses povos originariamente abrangiam uma área comum aos dois países, e por essa razão eles necessitam cruzar a fronteira com frequência, e são ameaçados e intimidados por agentes da fronteira, por falar pouco tanto o inglês quanto o espanhol, e por carregarem com eles apenas suas identificações tribais.


Além disso, os programas de repressão imigratória conduzidos pelas autoridades federais, estaduais e municipais têm colocado as comunidades latinas e indígenas que vivem ao longo da fronteira sob o risco constante de sofrerem discriminação racial. Como a supervisão sobre a aplicação desses programas é precária, raramente os responsáveis pelos abusos são levados a responder por eles. Como resultado, tais práticas, incluindo a discriminação de indivíduos baseada em sua suposta etnia, tornaram-se comuns e fora de controle, estimulando uma cultura de impunidade que alimenta o sistema de abusos.


A recente proliferação de leis estaduais voltadas aos indocumentados aumenta ainda mais o risco deles sofrerem mais discriminação e de terem impedido o acesso a serviços fundamentais, como educação e cuidados básicos de saúde.A atriz texana Amber Heard, que participou de várias expedições à fronteira sudoeste junto à Anistia Internacional, comentou a respeito do problema: "Cheguei às lágrimas quando ouvi algumas histórias de maus-tratos aos imigrantes. Se a missão da nossa nação é promover e proteger os direitos humanos pelo mundo, então precisamos honrar esse conceito começando por aplicá-lo em nossa casa".


Exigências da Anistia Internacional para os EUA– Que suspenda todos os programas de repressão imigratória que estão sob revisão no Gabinete do Inspetor Geral do Departamento de Segurança Nacional (Department of Homeland Security’s Office of Inspector General) para determinar se os programas podem ser implantados sem discriminação— Que aprove uma legislação que garanta igualdade de tratamento a vítimas de crimes— Que respeite e facilite o uso de papéis de identificação indígenas e outros documentos imigratórios na fronteira— Que assegure que as políticas e práticas na fronteira não exponham direta ou indiretamente imigrantes ao risco de vida.


Com informações do jornal AcheiUSA

quinta-feira, 29 de março de 2012

Março Verde e Amarelo: estudantes do Piaui e Minas promovem atos



Na última quarta-feira (28), estudantes e professores, reuniram-se para reivindicar por mais investimentos na área da educação. O “Março Verde e Amarelo” deTeresina, no Piauí, mobilizou estudantes de toda região, que se concentraram na Praça da Liberdade, às 9h, e seguiram em passeata até o Palácio de Karnak, sede do governo estadual. Na quinta (29). estudantes mineiros fazem a sua grande marcha verde e amarela.


O Março Verde e Amarelo consiste em uma série de mobilizações estudantis em todo país, promovidas pela União Nacional dos Estudantes (UNE).


A manifestação foi realizada com a participação do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Básica Pública do Piauí (Sinte-PI) e reuniu mais de 1000 pessoas. Elas exigiam mudanças significativas na educação, a começar pelo fim da greve dos professores, que acontece há mais de um mês e prejudica 600 mil alunos e a posição emergencial da prefeitura e do governo em relação ao piso salarial nacional dos docentes.


Os estudantes também reivindicaram o imediato retorno das aulas, pois, segundo as entidades representativas, além de prejudicar o calendário do ano letivo, não existe alternativas viáveis para preencher o tempo ocioso.


Segundo o vice-presidente da UNE-PI, Cássio Borges, a mobilização rendeu bons frutos e serviu para abrir os olhos dos parlamentares. “O governador do Piauí, Wilson Martins, marcou uma pré-reunião para a semana que vem. Vamos discutir o piso salarial dos professores e a melhoria da educação, além das bandeiras de lutada UNE, que são os investimentos de 10% do PIB e 50% do fundo social do pré-sal para o setor”, explicou.


Minas Gerais


No “Março Verde e Amarelo”, mês no qual a juventude de todo país, juntamente com a UNE e entidades regionais do movimento estudantil conectam suas vozes e levam às ruas suas reivindicações e anseios por um Brasil melhor, o estado de Minas Gerais anuncia sua presença com uma grande passeata a ser realizada na próxima quarta-feira (29).


A partir das 8h, os estudantes mineiros estarão reunidos na Praça Pio XII, no bairro de Santo Agostinho, realçando as ruas de Belo Horizonte.


O ato traz como bandeira de luta as pautas nacionais, como a redução das altas taxas de juros, o corte no orçamento federal que afeta gravemente o setor da educação e a defesa da indústria para o desenvolvimento nacional. Já no âmbito local, as pautas discutidas envolverão a exigência do respeito ao piso salarial dos professores, a criação de uma rede de escolas técnicas estaduais no estado, a aprovação do estatuto da juventude, o meio-passe para todos estudantes e a criação imediata da PEC do Fundo Social do Minério.


Essa última pauta está relacionada ao fato de que o estado de Minas Gerais fica com apenas 2% do faturamento líquido sobre a exploração do minério, mesmo sendo o maior produtor nacional. Os produtores de petróleo, em contrapartida, recebem 10% do faturamento bruto sobre a extração. Por esse motivo, os estudantes lutam pela criação da PEC do Fundo Social do Minério, com o intuito de que essa riqueza seja revertida para a educação e o desenvolvimento social do estado.


Por isso, para o presidente da UEE-MG, Rafael Leal, a criação da PEC, especificamente, é de extrema importância. ‘’Os royalties dos minérios poderiam ser utilizados como investimento em educação e tecnologia’’, complementou.


Ao final da passeata, que acontecerá em frente à Assembleia Legislativa de Minas, os estudantes farão um ato em favor da PEC, visando sensibilizar os deputados.


‘’A Jornada de Lutas é um momento fundamental na história do movimento estudantil. É o momento de sairmos às ruas, lutarmos por nossos direitos, aglutinando forças para que nossas pautas sejam alcançadas. É isso que pretendemos fazer aqui em Minas: lutar muito’’, declarou Rafael.

Fonte: UNE

Quanto vale uma professora?



...que saudade da professorinha que me ensinou o b-a-ba...

(Meus tempos de criança – Ataulfo Alves)

Com todos os equívocos em relação ao “politicamente correto”, o cantor e compositor Ataulfo Alves na década de 40 do século passado enaltecia a sua primeira professora e colocava-a em suas memórias de criança no mesmo patamar das brincadeiras e da primeira namorada, para concluir que “era feliz e não sabia”.

Hoje, em pleno século 21, o Brasil considerado a sexta potência econômica do mundo, a informação acessível, uma grande demanda por profissionais mais qualificados, que valor tem um professor ou professora responsável pela educação de nossas crianças?

No dia internacional da mulher (08/03/2012), em Patos de Minas, a professora Aparecida não estava em sala de aula. Ela passou a data no hospital com traumatismo craniano provocado por um acidente com sua bicicleta que teve os freios retirados por um aluno de 10 anos. O jovem teve um “desentendimento” com a professora em função da bagunça que ele provocava na sala de aula. Este é apenas mais um episódio envolvendo a violência e o desrespeito contra professores. Isto informa um pouco sobre o valor que os docentes têm na sociedade atual.

O drama não fica apenas no reconhecimento social e profissional. Vamos aos fatos e números: O Estado de Minas Gerais, governado por uma pessoa com formação de professor nega-se a pagar o piso nacional da categoria, esquecido dos ensinamentos de que piso é o chão, o que se encontra no nível mais baixo. Em Belo Horizonte foi criada uma referência de professor de segunda categoria para os educadores no ensino infantil; além dos baixos salários, eles não recebem o pagamento por habilitação que poderia equipará-los aos outros que possuem curso superior.

Na rede particular a situação é muito pior. O piso salarial da professora que educa as crianças com idade até três anos é R$ 7,73 por hora/aula de 60 minutos. Isto mesmo, sete e setenta e três. Mas, a comissão de negociação dos donos de escolas, integrada por dois proprietários de escola infantil, está propondo um reajuste de 5% para vigorar a partir de 1º de abril, ou seja, um aumento de R$ 0,39 – trinta e nove centavos – sobre esse salário-aula. Este aumento poderá levar à falência suas escolas, pois talvez tenham que deixar de comprar uma caixa de fósforos, um cafezinho ou um chicletes, se desembolsarem esta “fábula”.

Aqui não se trata de índice de reajuste, pois o dobro de 7,73 (reajuste de 100%) ainda não equipara o salário da professora ao que se cobra por uma hora de estacionamento. Questionamos e denunciamos é o valor que se dá à trabalhadora, educadora, responsável por uma turma de até 10 crianças com idade entre zero e três anos. Esta é a média de idade mais delicada no processo educacional.

Para Jean Piaget (Psicologia da criança), neste período (estágios psicomotor, intuitivo e simbólico), a criança precisa ser estimulada para desenvolver as bases de todas as estruturas cognitivas seguintes; é quando a criança começa a reinventar o mundo. O papel do educador nesta fase é fundamental e decisivo.

Os pais e mães não podem ficar indiferentes a esta situação. Mesmo não sendo obrigatório, o acesso à escola é importante, até do ponto de vista econômico, pois qualquer profissional que seja contratado para cuidar da criança terá custo maior do que a professora. Mas, como confiar seu filho ou filha com idade até 3 anos a uma escola que não valoriza as professoras.

É preciso um pacto envolvendo toda a sociedade em defesa de uma educação de qualidade. Isto não é possível com profissionais aviltados. Não chegamos ainda a ponto de uma evasão completa por falta de estímulo ao profissional da educação, embora nos últimos 5 anos tenha caído para a metade o número de estudantes nos cursos de licenciatura. O que pretendemos é chamar a atenção para a dimensão do problema e convocarmos para a luta em busca de uma solução.

Antes que nos lembrem, existem escolas que pagam salários melhores e valorizam mais os professores, isto é verdade. Entretanto, não estamos tratando de partes, como nos ensina Monteiro Lobato, nos Serões de Dona Benta, a “humanidade é um corpo só”, se um professor ou uma professora em qualquer lugar é desrespeitado ou desvalorizado, a coisa vai mal e pode piorar. Nossas crianças precisam escrever e saber o significado de palavras como Respeito e Dignidade. Precisamos educar este país.

Gilson Reis – Presidente do Sindicato dos Professores de Minas Gerais
Newton de Souza – Professor e dirigente sindical

CPI do Trabalho Escravo vai ajudar na aprovação de projeto



A lista suja do Ministério do Trabalho inclui 294 empregadores, entre pessoas físicas e jurídicas, acusados de explorar as pessoas, sem nenhum direito trabalhista ou humanitário garantido. Baseado nessa lista, a Câmara dos Deputados instalou, nesta quarta-feira (28) a CPI do Trabalho Escravo. Para aos parlamentares, defensores da investigação, a CPI vai ajudar também na aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que pune o trabalho escravo.“A CPI vem com o objetivo de colocar a questão do trabalho escravo num plano mais amplo de avaliação das condições de trabalho no Brasil”, afirmou deputado Cláudio Puty (PT-PA), autor do pedido para a criação da CPI e eleito presidente da comissão.

“A prática deste crime já foi há tempos reconhecida. É preciso bani-la da nossa sociedade, pois não existe justificativa plausível para não combatermos esta aberração.” Na reunião de instalação foram escolhidos o presidente, os três vice-presidentes e o relator. O presidente eleito disse que o objetivo da CPI é de melhoria na legislação e admitiu que existem divergências na discussão do tema, mas que não serão obstáculos para avançar nas melhoria das condições de trabalho, afirmou, anunciando em seguida o nome do relator da CPI, o tucano Walter Feldman (SP).

A escolha do relator é feita pelo presidente eleito da comissão e envolve negociações politicas, o que explica a escolha do petista pelo oposicionista.Puty explicou que a CPI se fez necessária porque os casos recorrentes de trabalho escravo demonstram que a legislação vigente não tem sido suficiente para resolver o problema, “que não é só trabalhista, mas também de direitos humanos”, destacou. E disse que “na quinta-feira passada, o IBGE revelou que batemos recorde na geração de trabalho, portanto temos condições de dar salto para o futuro para transformar esse país em um país de classe média, no campo e na cidade”.

O relator, que também falou, disse que “nosso desejo é de construir algo que compreenda as dificuldades que temos para superar os nós e que na ponta signifique liberdade e igualdade para todos”. Ele citou o exemplo em seu estado de origem, a cidade de São Paulo, “que tem ações de vanguarda, mas também elementos que significam algo que nos magoa, machuca e nos vitima”, anunciando o propósito de superar esses casos. São Paulo é a cidade com maior número de casos de trabalho escravo.Votação em abrilAlém da CPI, o presidente da Câmara, deputado Marco Maia (PT-RS), se comprometeu a informar ao Colégio de Líderes sua intenção de votar a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que endurece as penas para quem for flagrado mantendo condições de trabalho degradantes.


A chamada PEC do Trabalho Escravo altera a Constituição para tomar de forma sumária e imediata as terras ou bens dos condenados por explorar trabalhadores de forma semelhante à escravidão."É muito razoável que essa votação aconteça antes do dia 13 de maio, que é uma data simbólica, comemorativa da abolição da Escravatura no Brasil. Acenei com esta possibilidade de que nós tenhamos como referência os dias 8 e 9 de maio para a votação desta PEC aqui na Casa", disse Marco Maia.

De Brasília - Márcia Xavier

Denúncia: "Cachoeira e Demóstenes armaram o mensalão"



Quem diz é o ex-prefeito de Anápolis (GO) Ernani de Paula, que conviveu com os dois; ele foi amigo do contraventor e sua mulher Sandra elegeu-se suplente do senador do DEM em 2002; "Cachoeira filmou, Policarpo publicou e Demóstenes repercutiu", disse ele ao jornal Brasil 247.

O Mensalão, maior escândalo político dos últimos anos, que pode ser julgado ainda este ano pelo Supremo Tribunal Federal, acaba de receber novas luzes. Elas partem do empresário Ernani de Paula, ex-prefeito de Anápolis, cidade natal do contraventor Carlinhos Cachoeira e base eleitoral do senador Demóstenes Torres (DEM-GO).“Estou convicto que Cachoeira e Demóstenes fabricaram a primeira denúncia do mensalão”, disse o ex-prefeito em entrevista ao 247.

Para quem não se lembra, trata-se da fita em que um funcionário dos Correios, Maurício Marinho, aparece recebendo uma propina de R$ 5 mil dentro da estatal. A fita foi gravada pelo araponga Jairo Martins e divulgada numa reportagem assinada pelo jornalista Policarpo Júnior. Hoje, sabe-se que Jairo, além de fonte habitual da revista Veja, era remunerado por Cachoeira – ambos estão presos pela Operação Monte Carlo. “O Policarpo vivia lá na Vitapan”, disse Ernani de Paula ao 247.

O ingrediente novo na história é a trama que unia três personagens: Cachoeira, Demóstenes e o próprio Ernani. No início do governo Lula, em 2003, o senador Demóstenes era cotado para se tornar secretário nacional de Segurança Pública. Teria apenas que mudar de partido, ingressando no PMDB. “Eu era o maior interessado, porque minha ex-mulher se tornaria senadora da República”, diz Ernani de Paula.

Cachoeira também era um entusiasta da ideia, porque pretendia nacionalizar o jogo no país – atividade que já explorava livremente em Goiás.Segundo o ex-prefeito, houve um veto à indicação de Demóstenes. “Acho que partiu do Zé Dirceu”, diz o ex-prefeito. A partir daí, segundo ele, o senador goiano e seu amigo Carlos Cachoeira começaram a articular o troco.O primeiro disparo foi a fita que derrubou Waldomiro Diniz, ex-assessor de Dirceu, da Casa Civil.

A fita também foi gravada por Cachoeira. O segundo, muito mais forte, foi a fita dos Correios, na reportagem de Policarpo Júnior, que desencadeou todo o enredo do Mensalão, em 2005.Agora, sete anos depois, na operação Monte Carlo, o jornalista de Veja aparece gravado em 200 conversas com o bicheiro Cachoeira, nas quais, supostamente, anteciparia matérias publicadas na revista de maior circulação do país.Até o presente momento, Veja não se pronunciou sobre as relações de seu redator-chefe com o bicheiro.

E, agora, as informações prestadas ao 247 pelo ex-prefeito Ernani de Paula contribuem para completar o quadro a respeito da proximidade entre um bicheiro, um senador e a maior revista do país. Demonstram que o pano de fundo para essa relação frequente era o interesse de Cachoeira e Demóstenes em colocar um governo contra a parede. Veja foi usada ou fez parte da trama?

Fonte: Brasil247

quarta-feira, 28 de março de 2012

Protógenes: Somente com um Estado forte combateremos a corrupção





“Iremos ser participantes da investigação desse grande esquema criminoso e acabar com as sanguessugas dos recursos públicos do Brasil”. Essa foi a postura apresentada pelo deputado federal pelo PCdoB de São Paulo, Protógenes Queiroz, em entrevista exclusiva ao Vermelho para falar, dentre outras coisas, sobre as últimas denúncias de corrupção nas licitações da Saúde.


De São Paulo, Joanne Mota


O deputado, que assume publicamente a bandeira de combate à corrupção, lançou em dezembro do ano passado a revista Protógenes Contra a Corrupção, que, através debates e colaborações de especialistas, busca colocar para a sociedade, de forma clara, as denúncias apresentadas pela grande mídia. Desde o início de seu mandato, Protógenes Queiroz tem lutado para implementar um Plano Nacional de Combate à Corrupção. Segundo ele, para atingirmos um real desenvolvimento é preciso superar a ideia de tolerância muitas vezes assumida diante dos casos de corrupção. “Precisamos superar a máxima do ‘rouba, mas faz’. Não podemos mais tolerar que usem a máquina pública para o enriquecimento particular”.


Protógenes conversou com o Vermelho e reafirmou que combater a corrupção significa fazer leis que garantam maior celeridade nos processos de investigação e punir com mais rigor os criminosos do dinheiro público.


Acompanhe a entrevista:


Portal Vermelho: Durante sua vida pública sempre levantou a bandeira de combate à corrupção. A Direita brasileira sempre afirmou defender o combate à corrupção, mas muitos acreditam que este posicionamento se dê apenas no substantivo e não no verbo. Qual é a sua avaliação sobre essa discussão?


Protógenes Queiroz: A direita tenta apresentar essa bandeira como sendo sua pauta principal, mas no fundo o que ocorre é uma ação que tenta encobrir todo o trabalho de investigação, fiscalização e controle que foi realizado pelos órgãos do Estado desde o governo Lula, uma gestão com mais transparência, com mais dotação de recursos e estruturação dos órgãos de fiscalização e controle, tais como Polícia Federal, Receita Federal, Judiciário. Ou seja, um fortalecimento das instituições do Estado. Então é preciso voltar um pouco para entender.Antes dessa reestruturação, o que nós vimos no país foi a criação, na década de 1990, pelo governo neoliberal, representado por Fernando Henrique Cardoso, de um modelo de República que contraria esses princípios. Ou seja, foi implementado um modelo no qual o Estado assume um papel mínimo, daí vieram todos os problemas. O Estado mínimo se centra em diminuir a potencialidade da fiscalização e controle, em desestruturar as instituições, deixando-as mais frágeis, para não cumprir o seu papel final.


Já em um segundo momento da República, que foi a ascensão de um governo de esquerda, mais aberto e de coalizão, com mais transparência, onde nós que integramos o Partido Comunista do Brasil colocamos as propostas, as premissas principais, e formulamos o projeto de um novo Brasil. E o Brasil mudou.


Com esse novo bloco tivemos a potencialização das estruturas de Estado, com foco na recuperação de todo o atraso decorrente dessa política neoliberal. Nessa esteira, firmamos como uma das premissas básicas do fortalecimento do Estado, justamente, o combate à corrupção, e combate ao desperdício dos recursos públicos. Além disso, atrelamos essa postura a uma divisão maior de renda, com foco nas camadas mais pobres, dando uma atenção especial a três segmentos importantes para o desenvolvimento: Educação, Saúde e Segurança Pública.


O discurso de combate à corrupção que a direita assume é um discurso que retrata um Brasil campeado pela corrupção, um Brasil tomado pela corrupção. Tal postura busca até nos desqualificar quando nosso bloco levanta a bandeira de combate a este câncer. O que precisa ficar claro é que essa corrupção nas estruturas do Estado já existe há mais de duas décadas e que com a criação de órgãos de fiscalização, ação efetivamente iniciada com o governo Lula, é que ela veio à tona.Instrumentos como a Lei da Transparência, que obriga o Estado, em todos os seus níveis, a apresentar todas as suas contas, buscam corrigir distorções e dotar o Estado de um sistema mais eficiente, acompanhado de um resultado com vistas ao desenvolvimento, se configuram como parte importante no combate à corrupção.


Portal Vermelho: A mídia, em um processo diário, coloca para a população que o Estado se converteu em uma instituição corrupta, sobretudo na última década. Desse modo, como as forças ditas progressistas se apropriam do contradiscurso? Como essas forças esclarecem que hoje há mais casos de corrupção, porque hoje há mais fiscalização?


PQ: Do meu ponto de vista, as organizações partidárias mais progressistas, os organismos da esquerda brasileira, ainda têm dificuldades de se contrapor à propaganda da grande mídia brasileira, sustentada pela elite de direita do país, esta que além de possuir muitos recursos, possui um poder de articulação fortíssimo. Desse modo, nós ainda não estamos sabendo fazer um contraponto, e quando o fazemos, o fazemos de maneira muito tímida.Penso que ainda não assumimos uma ação de vanguarda, ou seja, de tratar o tema dentro de nossas realidades e das nossas ações que vêm sendo feitas no dia a dia. Tais como o aprimoramento do sistema público de saúde e de políticas públicas para a educação, com maior fiscalização e controle dos recursos destinados para estes setores.


Creio que os instrumentos estão postos, os órgãos existem, mas o contraponto ainda é feito timidamente. Penso que ainda há receio em discutir a corrupção, não devemos temer assumir nossa postura, pelo contrário, se hoje mostramos que o Brasil possui estruturas corruptas é porque hoje também possuímos estruturas mais transparentes.



É interessante resgatar que essa mesma direita que hoje levanta a bandeira do combate à corrupção, empreendeu a onda de privatizações que possibilitou, sem deixar rastro, o desvio de bilhões, de uma só vez, do erário brasileiro. Então, os problemas de hoje têm raiz no processo de entreguismo de setores como foi o da mineração, com a venda da Vale do Rio Doce, da aviação, da telefonia, entre muitos outros.


Portal Vermelho: Hoje a palavra controle assume muitas vezes um caráter negativo em muitos debates. Por que isso acontece? E como os órgãos de controle, como a Controladoria Geral do Estado (CGU), têm contribuído na ampliação da fiscalização e na informação sobre os gastos dos recursos públicos?


PQ: A Controladoria Geral da União foi criada a partir de uma exigência da população, que se ressentia de um controle maior da verba pública, um controle maior da responsabilidade no trato da coisa pública. É bom frisar que essa cobrança foi feita ainda no governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que cria a CGU, porém não dota dos instrumentos necessários para que ela execute sua função. A história mostra que a CGU só passa realmente a funcionar quando o ex-presidente Lula assume a Presidência. A própria Polícia Federal também assume outro papel após 2002, com valorização do profissional e modernização e ampliação estrutural deste setor. Ou seja, a estrutura do Estado passou a eliminar aquela fragilidade do passado, justamente para fazer face aos desafios do grande Plano Nacional, que foi apresentado por esse bloco progressista que se formou ainda durante a campanha do Lula.


A partir dessa reestruturação do Estado é que passamos a perceber o quanto foi danoso essa política de Estado mínimo no passado, e que ainda está tendo um custo alto. Então, penso que para superarmos as demandas em relação à fiscalização e ao controle dos recursos públicos é preciso ter mais ações de vanguarda, como não fugir do debate ao combate à corrupção e assumir que essa é uma bandeira própria das ações das forças progressistas. Daí a população perceberá sua função enquanto ator de controle social, e se articulará de forma estratégica com o poder público. Ou seja, precisamos unir forças como as dos movimentos sociais e do movimento sindical ao Estado, e superar aquela ideia de que os órgãos de controle servem apenas para a consulta ao governante e não como órgão de planejamento de decisão desse governante.


Portal Vermelho: Olhando para essa fragilidade apontada pelo você e rememorando as últimas denúncias sobre o caso de corrupção no processo de licitação em hospitais do Rio de Janeiro. O que falta para se pensar que desviar a verba pública atinge mais do que o Estado, atinge todos os brasileiros? Por que há esse desrespeito com o que é público?


PQ: Hoje se trava um grande debate quando ocorrem esses escândalos, e quando isso ocorre é que percebemos as fragilidades. Penso que para superar isso primeiramente será preciso fortalecer as instituições de Estado, fortalecer os órgãos de fiscalização e controle, CGU,Tribunal de Contas da União, Polícia Federal, Ministério Público Federal. O caminho a seguir seria fazer leis que garantissem maior celeridade nos processos de investigação, ou mesmo fazer uma lei que punisse com mais rigor os criminosos do dinheiro público.


Outra coisa que precisa ser problematizada, é que ainda não há um debate nacional sobre estas questões, o que existe é um consciente coletivo se indignando com esse tipo denúncia, e esse consciente pede maior pena para esses criminosos. Nesse sentido, penso que o rigor da lei deve estar na ordem das discussões, está na hora de pensarmos em uma lei mais rigorosa e eficaz, tanto no que se refere à punição e detenção dessas pessoas, como na recuperação dos recursos desviados.


Para tanto, precisamos superar os problemas burocráticos e judiciais que muitas vezes emperram a recuperação do patrimônio usurpado. É preciso fazer uma reformulação na legislação. É escandaloso saber que existem liminares para colocar em liberdade esses ladrões da República, no entanto não existe uma só liminar que determine que esses usurpadores tenham seus bens bloqueados e remetidos para o Estado como forma de compensar os desvios cometidos. E qual a nossa resposta para esses atos ilícitos? Apresentamos no ano passado o Projeto de Lei 21/2011, que prevê pena de 12 a 30 anos de prisão para os crimes de corrupção. Ou seja, o que entendemos é que esses criminosos não fiquem impunes, mas sejam salvos pela prescrição, visto que a pena máxima hoje é de seis anos, e se tiver bons antecedentes ele não sofrerá pena de privatismo da sociedade. Então, é mister uma reforma legal, olhando pelo prisma do fortalecimento das instituições do Estado, da definição de uma pena à altura do prejuízo que se causa à sociedade e uma maior participação social no controle das ações do Estado.


Portal Vermelho: Olhando agora para uma ação mais pontual. Qual o balanço que você faz sobre o encaminhamento das Comissões Parlamentares de Inquérito referentes aos casos Cachoeira e da Privataria Tucana?


PQ: Primeiramente, é bom frisar que estes dois casos fazem parte de uma ação parlamentar transformadora. Quando me deparei com estes dois temas que são superimportantes para a República, que historicamente nunca foram debatidos com a atenção devida e nem expostos para a sociedade, nem tampouco foram alvo de investigações como foi o caso das privatizações e agora recentemente a denúncia de parlamentares envolvidos no crime organizado e com corrupção, percebi a responsabilidade e o desafio que nós teríamos pela frente.


Tomando primeiro a CPI da Privataria Tucana, que foi objeto das privatizações realizadas na década de 1990 – apoiada naquela política de Estado mínimo brasileiro –, e logo que foi publicado o livro do Amaury Ribeiro Junior, me deparei com três operações que coordenei durante mais de 13 nos na Polícia Federal, o que me colocou à frente destes processos. Ou seja, vi que precisávamos tomar uma providência e o próximo passo foi apresentar para a sociedade o caso, pois o Brasil precisava conhecer esse debate.


E com a ajuda do livro-documento do Amaury o Brasil foi contagiado pelas denúncias apresentas pelo autor. O mais estranho é que nenhuma instituição dessa República se dignou a querer investigar o caso. Precisou nós instalarmos no Parlamento o pedido de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para aquilo ser reproduzido, ser construído todo um debate a respeito do histórico das privatizações no Brasil, se verificar se houve mesmo corrupção e desvio de verba.


Então, o que o nosso bloco quer saber é já que se privatizou, já que venderam nossas riquezas nacionais, para onde foi esse dinheiro? Queremos saber se o dinheiro foi parar na contar do ex-governador José Serra, se foi parar na conta do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, ou na conta do operador Ricardo Sérgio. O que nós queremos é a verdade. Penso ser justa essa indagação. O outro debate que irá transformar o Brasil se refere ao caso da CPI do Cachoeira que é tão grave quanto o da CPI da Privataria Tucana. Os atores são os mesmos, o modus operandi é o mesmo, as apropriações dos recursos públicos são de grande monta como no passado. Nesse momento temos revelado todo o esquema podre realizado durante anos na República. Queremos ser participantes da investigação desse grande esquema criminoso de sugar os recursos públicos do Brasil. A partir de agora a ordem é essa, pelo menos nesse mandato parlamentar o botão vai ser esse: investigar e processar. A pesar das críticas, pois se tratam de ações que não são bem-vidas no Parlamento, nem tampouco nas discussões políticas das organizações políticas.


Portal Vermelho: Essa ausência de discussão se liga ao nível de alianças que são firmadas em Brasília. O que coloca ser preferível evitar o debate a romper os acordos?

PQ: É exatamente isso. Tenho feito esse enfretamento com os partidos políticos no Congresso, inclusive queria que estas duas CPIs corressem juntas numa CPI mista, mas não encontrei apoio no Senado Federal para concretizar isso. Visto que se tem suspeita de senadores envolvidos em ambos os casos.Porém, apesar dos anacronismos e dos inconformismos, das ações políticas que tentam a todo tempo se articular para a coisa não acontecer, para manter o status quo, a Câmara tem assumido sua responsabilidade e tem dado o tom da mudança nessa República. Afirmo, iremos até o fim nestas duas CPIs. Não seria diferente, represento um Partido que tem 90 anos de história e de ação concreta e iremos fazer valer essa história. Isso significa investigar, processar e punir quem espolia o patrimônio público de nossa República.

Trabalhadores sem-terra denunciam ameaças a ocupantes de fazenda em Minas Gerais



O Movimento de Luta pela Terra em Minas Gerais denunciou nesta quarta-feira (28) as ameaças sofridas pelos trabalhadores sem-terra que ocupam a fazenda Campanha, na BR 452, km 154, no município de Uberlândia.


A ocupação é feita por 75 famílias que estão amedrontadas com as ameças feitas por pessoas ligadas ao proprietário que passam em carros prometendo tirá-las à força do local. "Certos indivíduos alertam que não vão nem precisar da policia, pois a lei quem faz são eles", revela nota do movimento.


De acordo com o MLT, a polícia ainda não se apresentou na fazenda,aumentando ainda mais a insegurança e preocupação dos líderes rurais, já que o assassinato de trabalhadores sem-terra tem se tornado rotina.


No último sábado (24), três militantes do Movimento de Libertação dos Sem Terra (MLST) foram encontrados mortos dentro de um veículo abandonado numa rodovia no distrito de Miraponga, em Uberlândia (MG).


Junto aos três corpos, com marcas de tiros em diferentes partes do corpo, estava uma criança de 5 anos, neta de uma das vítimas, que segundo a polícia militar teria presenciado os assassinatos.
Nesta região do Estado, conhecida como Triângulo Mineiro, existem muitos acampamentos de trabalhadores sem terra, que aguardam serem beneficiados por programas de reforma agrária.


As três vítimas, dois homens e uma mulher, eram coordenadores de um acampamento do MLST. Segundo a polícia, os militantes Valdir Dias Ferreira, 39 anos, e Clestina Leonor Sales Nunes, 47 anos, foram assassinados com tiros na cabeça, e a terceira vítima, Nilton Santos Nunes da Silva, 52 anos, chegou a reagir ao crime.


O MLT divulgou uma nota de repúdio à morte dos trabalhadores e cobra da polícia uma solução imediata para o crime, que culmine com a prisão dos responsáveis.




Portal CTB

terça-feira, 27 de março de 2012

Retrospectiva Sinpro Minas

Confira o vídeo com a retrospectiva das ações do Sinpro Minas nos últimos anos. A nova diretoria do sindicato tomou posse no dia 9 de março e ganhou 53 novos professores.

Assista:

Índia: Brics discute criar banco para fomentar desenvolvimento


A presidente Dilma Rousseff desembarcou nesta terça-feira (27) em Nova Delhi, na Índia, para participar da 4ª Cúpula do Brics (grupo composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). De acordo com informações do governo, o encontro pretende discutir sobre como estimular o crescimento econômico de forma sustentável e equilibrada. Ainda segundo o governo, Dilma seguiu para a Índia acompanhada dos ministros Antonio Patriota (Relações Exteriores), Aloizio Mercadante (Educação), Marco Antonio Raupp (Ciência, Tecnologia e Inovação), Fernando Pimentel (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior) e Helena Chagas (Comunicação Social), além do governador de Sergipe, Marcelo Déda, e 110 empresários.

Participarão da reunião os líderes dos cinco países do bloco: a presidente brasileira, o premiê indiano, Manmohan Singh, e os presidentes Dmitri Medvedev, da Rússia, Hu Jintao, da China, e Jacob Zuma, da África do Sul.Segundo nota do governo Indiano, a principal reunião será na quinta-feira (29), na qual Manmohan Singh apresentará a proposta de criação do banco do desenvolvimento do Brics. “A ideia é que a instituição se dedique aos investimentos em projetos de infraestrutura e desenvolvimento sustentável em nações pobres e emergentes.

O processo de criação do banco deve ocorrer a longo prazo”, informou a nota."Os países membros do Brics representam cerca de 19% do PIB mundial. Desse modo, nossa principal discussão é a proposta de criar (no futuro) um banco dos Brics" destinado a financiar investimentos e projetos de infraestrutura, informou à imprensa o ministro de Indústria, Fernando Pimentel. A expectativa é de que os líderes assinem uma declaração sobre a intenção de criar o Banco de Desenvolvimento do Brics, que funcionaria como uma espécie de alternativa ao Banco Mundial e ao Fundo Monetário Internacional.

Para Fabiano Mielniczuk, coordenador de pesquisa do Brics Policy Center, uma iniciativa da Prefeitura do Rio de Janeiro e da PUC/RJ, a criação "do Banco de Desenvolvimento dos Brics deve virar realidade em cerca de três anos. A intenção é ter dinheiro para investir nos próprios países do grupo e em outros países em desenvolvimento", declarou à imprensa.Segundo ele, "até o momento, estes países foram forçados a se submeter a políticas de condicionalidade, tendo de cumprir exigências feitas pelo Banco Mundial ou do FMI em troca de empréstimos.

Isso não aconteceria com o banco do Brics".A 4ª Cúpula também discutirá a assinatura de atos em relação a um tema que vem sendo discutido desde a realização da primeira Cúpula do Brics: a criação de mecanismos para facilitar o comércio e o financiamento em moeda local de investimentos realizados entre os países do bloco.Ao fim da 4ª Cúpula, a presidente Dilma continuará na Índia para reuniões bilaterais com o premiê Manmohan Singh. Na sexta-feira (30), Dilma deve assinar uma série de acordos bilaterais com a Índia.Luta pela paz e pela soberaniaA organização da 4ª Cúpula informou que os presidentes e o primeiro-ministro também deverão discutir propostas para a defesa da paz e da segurança no Oriente Médio e Norte da África. Os destaques deverão ser a Síria, devido à onda de violência que dura mais de um ano, e o Afeganistão, que vive momento de apreensão depois do massacre de civis por um sargento norte-americano.

Desenvolvimento sustentável

A pauta de discussões dos Brics também incluirá temas ligados à Rio+20, como a chamada ‘economia verde’, com foco na distribuição de renda e gerar inclusão social."Isso envolve a transferência de tecnologia de países ricos para aqueles em desenvolvimento. Nesse sentido, os outros países do Brics têm muito a aprender com a China, que investe pesado em pesquisa para migrar para uma tecnologia limpa", diz Fabiano Mielniczuk.Com agências

segunda-feira, 26 de março de 2012

Emir Sader: Argentina, o terror mais brutal

O golpe argentino – que hoje (no dia 24) completa 36 anos – foi o mais brutal, assim como a ditadura que instalou, de todos os que viveram a região. Fechou o cerco dos regimes de terror que assolou o Cone Sul do continente, em quatro dos países onde o campo popular era mais forte e ameaçava mais a dominação das elites tradicionais e do imperialismo sobre a América Latina.


Por Emir Sader, em seu blog


Ditadura: ex-almirante Emilio Eduardo Massera, ao lado do presidente da Junta Militar, Jorge Videla / Foto: AFPA Argentina tinha sofrido um golpe similar ao brasileiro, em 1966, que deveria realizar programa paralelo ao da ditadura brasileira. Mas a resistência popular impediu e as elites argentinas tiveram que promover uma transição à democracia, depois que o golpe fracassou.Veio a eleição de Perón, em 1973, na contramão do que acontecia na região – do golpe de 1964 no Brasil, aos golpes desse mesmo ano no Uruguai e no Chile.


O período histórico tinha mudado, Perón ja não teria investimentos externos da Europa, o pais languidesceu até o novo golpe, o de 1976, desta vez mais selvagem que os anteriores – de 1955 e 1966.Videla e a alta oficialidade argentina receberam os balanços que lhes mandavam os militares golpistas do Brasil e do Chile. O uso brutal da tortura (contribuição brasileira com o pau-de-arara como tecnologia inovadora), evitar o Estadio Nacional, como mandou dizer Pinochet, para contornar campanhas internacionais pela libertação de presos.


Tornar assim sistemático o fuzilamento e o desaparecimento dos corpos.Isso a ditadura argentina fez com esmero. À maior força da luta popular, mais repressão. Trinta mil mortos e desaparecidos, massacres, fuzilamentos, torturas – foi a síntese mais avançada dos regimes de terror da região. Com requintes de crimes de lesa humanidade inéditos: como o sequestro dos filhos dos presos e fuzilados pela ditadura, crianças entregues a outras famílias, via de regra de militares, para adoção.Como a ditadura de 1966 tinha fracassado, a de 1976 enfrentou a recessão mundial, levando a Argentina a um profundo retrocesso econômico, promovendo a hegemonia do capital financeiro, pelas desregulamentações que promoveu.


Começou mais tarde que as outras, mas não sobreviveu além do fim dos seus congêneres. Demorou menos no poder, mas assassinou muito mais – como atesta a lista de suas vítimas no Parque da Memória, em que se concentram uma quantidade impressionante de mortes nos anos 1975, 76 e 77.


A ditadura foi sucedida pela democratização nos anos 80, pela crise da dívida e pelo neoliberalismo. Mas a luta da Mães da Praça de Maio e do povo argentino permitiu que a anistia promulgada pela ditadura fosse superada e os argentinos tem, pelo menos, o consolo de ver Videla e vários dos seus colegas cumprindo penas em presídios comuns, via de regra de prisão perpétua.Nada que permita ressarcir todo os danos e sofrimentos impostos ao país e ao povo. Mas pelo menos a justiça tem sido cumprida, para que nunca mais se esqueça, para que nunca mais aconteça.

Dr. Arnaldo Lichtenstein: “Pistola de choque pode causar arritmia cardíaca e matar, sim”



A pistola de choque que matou o estudante brasileiro na Austrália pode ser letal, sim


por Conceição Lemes


O taser é uma pistola cujos “disparos” dão eletrochoque. O objetivo é paralisar possível infrator. Atualmente existem 700 mil no mundo. No Brasil, chegam a 15 mil. Aqui, está em uso pelas polícias de vários municípios e estados, como Rio de Janeiro, Acre, Bahia e Rio Grande do Sul. Deverá ser utilizada pelas forças de segurança do Brasil durante a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016. Tanto que governo federal, estados e cidades-sede já confirmaram que vão priorizar o uso desse tipo de armamento em instalações esportivas, estádios e seus arredores.


É a mesma arma que no último domingo, 18 de março, matou o estudante brasileiro Roberto Laudisio Curti, 21 anos, em Sydney, na Austrália.


“Embora seja considerada uma arma não letal, a pistola taser pode matar, sim”, adverte o clínico geral Arnaldo Lichtenstein, do Hospital das Clínicas de São Paulo, professor colaborador do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da USP. “Evidentemente uma pessoa com doença cardíaca atingida tem mais risco. Se usa marcapasso, o aparelho pode desregular. Porém, uma pessoa saudável, hígida, não está totalmente livre de risco.”


Carlos Alberto Lungarzo, membro da Anistia Internacional e professor titular aposentado da Unicamp, reforça: “O taser representa um grande perigo, pois a polícia ilude a população com o fato de que ele não é letal. Só que essa ideia embute falácias”.


DA ‘FAMÍLIA” DE BALA DE BORRACHA, GÁS LACRIMÔNEO E SPRAY PIMENTA


O taser integra a categoria das chamadas armas não letais, da fazem parte também o bastão de choque, as balas de borracha, o gás lacrimogêneo e o spray de pimenta.


Parece pistola comum, mas tem uma “bala” diferente. O gatilho aciona um sistema de ar comprimido, que impulsiona o lançamento de dois dardos. Conectados à pistola por fios metálicos, os dardos podem atingir um alvo a quase 11 metros de distância. Os dardos penetram 2,5 cm na pele e transmitem descargas elétricas de até 50 mil volts, porém com baixa corrente. Essas ondas eletromagnéticas atuam no sistema nervoso central e interrompem os sinais que o cérebro emite para o corpo. A pessoa atingida fica, então, paralisada durante alguns segundos. Seus músculos se contraem, ela treme e cai.


O choque pode afetar o corpo de duas maneiras:


* O coração se contrai pelo estímulo elétrico. Se uma carga elétrica cai num determinado ponto desse ciclo cardíaco, ela pode desencadear uma parada cardíaca. É por isso que, numa reversão de arritmia com choque, o desfibrilador tem de estar sincronizado com esse ritmo.


“Daí por que até um choque de tomada pode causar parada cardíaca, independentemente da amperagem ou corrente elétrica”, afirma o doutor Lichtenstein.


* Um choque intenso, como um raio, paralisa os músculos, inclusive o diafragma, e pode causar parada respiratória. “Lógico que o choque do taser é mais fraco do que um raio, mas vários disparos seguidos numa mesma pessoa podem, potencialmente, ter esse efeito”, expõe o médico.


“Mas não dá mesmo para garantir a inocuidade do taser?”, alguém talvez cobre. A resposta é não. Como no meio de uma briga de torcidas, por exemplo, dá para saber se o alvo tem ou não uma doença cardíaca grave? Impossível! E se essa pessoa, na queda, bate a cabeça no chão? Ela pode não morrer do choque, mas do tombo.


“Além disso, abusando da idéia de que não é mortal, a polícia nos Estados Unidos, por exemplo, usa o taser com extrema frequencia, sem necessidade e com intensidade maior para atravessar a roupa”, alerta Lungarzo.


FACILIDADE DE TRANSPORTE E USO, SEM DEIXAR MARCAS EVIDENTES, FAVORECE MUITO O ABUSO


Nos EUA, segundo estudo da Anistia Internacional, de 2001 a agosto de 2008, 334 pessoas morreram após serem atingidas por taser.


“Ao contrário do que são retratados, os tasers não são armas ‘não letais’”, diz Angela Wright, pesquisadora da Anistia Internacional lá. “Como são fáceis de transportar e usar, sem deixar marcas significativas, facilitam muito os abusos.”


Um outro estudo da Anistia ns EUA, que inclui informações de 98 autópsias, descobriu que 90% das pessoas que morreram depois atingidas por “tiros” de taser estavam desarmadas e muitas não representavam ameaça grave.


Entre elas, muitas foram submetidas a choques repetidos ou prolongados ou por mais de um policial de cada vez. Em pelo menos seis dos casos, os tasers foram usados ​​em indivíduos com problemas de saúde, como convulsões, inclusive num médico que teve um acidente de carro após sofrer ataque epiléptico. Ainda meio tonto e confuso, começou a andar pelo acostamento. O policial mandou-o parar. Como não obedeceu, recebeu sucessivos “tiros”, por não obedecer a ordem. Policiais também têm usado os tasers em crianças, mulheres grávidas e até mesmo numa mulher com demência.


“As armas de eletrochoque, como os tasers, foram lançadas para o uso geral antes de testes rigorosos e independentes sobre os seus efeitos”, preocupa-se Angela Wright. “Estudos existentes – muitos deles financiados pela indústria – concluíram que o risco dessas armas é geralmente baixo em adultos saudáveis. No entanto, esses estudos são limitados e têm apontado para a necessidade de mais compreensão dos efeitos de tais dispositivos em pessoas vulneráveis, incluindo aquelas sob a influência de drogas estimulantes ou problemas de saúde.”


Não à toa a Anistia Internacional já pediu a todos os países que suspendam o uso dos tasers. Ou, pelo menos, reduzam drasticamente o seu uso.


“O taser deve ser usado apenas imobilizar ou desarmar o agressor, desde que ele esteja armado”, completa Lungarzo. “Não deve ser empregado para imobilizar alguém que foge, mas alguém que ataca.”

Demóstenes ficava com 30% do que Cachoeira arrecadava com jogatina

por Leandro Fortes, em Carta Capital


A Polícia Federal tem conhecimento, desde 2006, das ligações do bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, com o senador Demóstenes Torres, do DEM de Goiás.

Três relatórios assinados pelo delegado Deuselino Valadares dos Santos, então chefe da Delegacia de Repressão a Crimes Financeiros (DRCOR), da Superintendência da PF em Goiânia, revelam que Demóstenes tinha direito a 30% da arrecadação geral do esquema de jogo clandestino, calculada em, aproximadamente, 170 milhões de reais nos últimos seis anos.

Na época, o império do bicheiro incluía 8 mil máquinas ilegais de caça-níqueis e 1,5 mil pontos de bingos. Como somente no mês passado a jogatina foi desbaratada, na Operação Monte Carlo, as contas apresentadas pela PF demonstram que a parte do parlamentar deve ter ficado em torno de 50 milhões de reais. O dinheiro, segundo a PF, estava sendo direcionado para a futura candidatura de Demóstenes ao governo de Goiás, via caixa dois.

A informação, obtida por CartaCapital, consta de um Relatório Sigiloso de Análise da Operação Monte Carlo, sob os cuidados do Núcleo de Inteligência Policial da Superintendência da PF em Brasília. Dessa forma, sabe-se agora que Demóstenes Torres, ex-procurador, ex-delegado, ex-secretário de Segurança Pública de Goiás, mantinha uma relação direta com o bando de Cachoeira, ao mesmo tempo em que ocupava a tribuna do Senado Federal para vociferar contra a corrupção e o crime organizado no País.

O senador conseguiu manter a investigação tanto tempo em segredo por conta de um expediente tipicamente mafioso: ao invés de se defender, comprou o delegado da PF.

Deuselino Valadares foi um dos 35 presos pela Operação Monte Carlo, em 29 de fevereiro. Nas intercepções telefônicas feitas pela PF, com autorização da Justiça, ele é chamado de “Neguinho” pelo bicheiro. Por estar lotado na DRCOR, era responsável pelas operações policiais da Superintendência da PF em todo o estado de Goiás. Ao que tudo indica, foi cooptado para a quadrilha logo depois de descobrir os esquemas de Cachoeira, Demóstenes e mais três políticos goianos também citados por ele, na investigação: os deputados federais Carlos Alberto Leréia (PSDB), Jovair Arantes (PTB) e Rubens Otoni (PT).

Ao longo da investigação, a PF descobriu que, nos últimos cinco anos, o delegado passava informações sigilosas para o bando e enriquecia a olhos vistos. Tornou-se dono de uma empresa, a Ideal Segurança Ltda, registrada em nome da mulher, Luanna Bastos Pires Valadares. A firma foi montada em sociedade com Carlinhos Cachoeira para lavar dinheiro. Também comprou fazendas em Tocantins, o que acabou por levantar suspeitas e resultar no afastamento dele da PF, em 2011.

O primeiro relatório do delegado Deuselino Valadares data de 7 de abril de 2006, encaminhado à Delegacia de Repressão a Crimes Contra o Patrimônio (Delepat) da PF em Goiânia. Valadares investigava o escândalo da Avestruz Master, uma empresa que fraudou milhares de investidores em Goiás, quando conheceu o advogado Ruy Cruvinel. Cruvinel chamou Valadares para formar uma parceria a fim de criar “uma organização paralela” à de Carlinhos Cachoeira. O suborno, segundo o delegado, seria uma quantia inicial de 200 mil reais. Ele, ao que parece, não aceitou e decidiu denunciar o crime.

Em 26 de abril de 2006, o relatório circunstanciado parcial 001/06, assinado por Deuselino Valadares, revelou uma ação da PF para estourar o cassino de Ruy Cruvinel, no Setor Oeste de Goiânia. Preso, Cruvinel confessou que, dos 200 mil reais semanais auferidos pelo esquema (Goiás e entorno de Brasília), 50%, ou seja, 100 mil reais, iam diretamente para os cofres de Carlinhos Cachoeira.

Outros 30% eram destinados ao senador Demóstenes Torres, cuja responsabilidade era a de remunerar também o então superintende de Loterias da Agência Goiânia de Administração (Aganp), Marcelo Siqueira. Ex-procurador, Siqueira foi indicação de Demóstenes e do deputado Leréia para o cargo. Curiosamente, ao assumir a função, um ano antes, ele havia anunciado que iria “jogar duro” contra o jogo ilegal em Goiás.


Em 31 de maio de 2006, de acordo com os documentos da Operação Monte Carlo, Deuselino Valadares fez o relatório derradeiro sobre o esquema, de forma bem detalhada, aí incluído um infográfico do “propinoduto” onde o bicheiro é colocado ao centro de uma série de ramificações criminosas, ao lado do senador do DEM e do ex-procurador Marcelo Siqueira. Em seguida, misteriosamente, o delegado parou de investigar o caso.

“Verificado todo o arquivo físico do NIP/SR/DPF/GO não foi localizado nenhum relatório, informação ou documentos de lavra do DPF DEUSELINO dando conta de eventual continuidade de seus contatos com pessoas ligadas à exploração de jogos de azar no Estado de Goiás”, registrou o delegado Raul Alexandre Marques de Souza, em 13 de outubro de 2011, quando as investigações da Monte Carlo estavam em andamento.

A participação do senador Demóstenes Torres só foi novamente levantada pela PF em 2008, quando uma operação também voltada à repressão de jogo ilegal, batizada de “Las Vegas”, o flagrou em grampos telefônicos em tratativas com Carlinhos Cachoeira. Novamente, o parlamentar conseguiu se safar graças a uma estranha posição da Procuradoria Geral da República, que recebeu o inquérito da PF, em 2009, mas jamais deu andamento ao caso.

sexta-feira, 23 de março de 2012

Dilma cobra Brics na Rio+20; grupo quer alternativa ao FMI



A presidenta Dilma Rousseff vai à Índia na próxima quarta-feira (28) para participar da 4ª Reunião de Cúpula do Brics – bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. A reunião está marcada para o dia 29 e, entre os assuntos que serão tratados pela presidenta, está a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, que o Brasil sedia em junho.


Segundo a subsecretária-geral de Política do Ministério de Relações Exteriores, embaixadora Maria Edileuza Fontenele Reis, um dos temas da cúpula do Brics é, justamente, o desenvolvimento sustentável. “Certamente vamos focar no desenvolvimento sustentável, tema da conferência, nas suas três vertentes: social, ambiental e econômica. Além de uma abordagem sobre economia verde ligada à erradicação da pobreza”.


Segundo a diplomata, a cúpula ocorre em um “momento delicado” para a economia mundial, outro tema que será debatido na Índia. Também serão tratadas questões relativas ao Oriente Médio e à África e avaliadas as atuações dos representantes do bloco de países emergentes no Conselho de Segurança das Nações Unidas.


O Brics conta com dois membros permanentes no conselho, Rússia e China.Outro assunto a ser tratado é a Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC). A Rússia foi admitida no ano passado como membro da organização que regula o comércio mundial. Para a embaixadora, isso abre uma nova perspectiva para os países do Brics em relação à Rodada Doha, parada desde 2008 por causa de impasses em relação aos subsídios agrícolas dos países desenvolvidos e as barreiras impostas pelos emergentes a serviços e produtos industrializados dos países ricos.


BM e FMI dos Brics


Maria Edileuza disse ainda que a proposta de criação de um banco de desenvolvimento do Brics deverá ser analisada por um grupo técnico. “A ideia é a criação de um banco do Brics voltado para a promoção de projetos de desenvolvimento sustentável e no campo de infraestrutura no Brics e em países em desenvolvimento”, disse a embaixadora. “Ainda não há detalhes sobre sobre áreas prioritárias. Essa ideia ainda é embrionária”, acrescentou.A nova instituição bancária deve ser uma espécie de alternativa ao Banco Mundial (BM) e ao Fundo Monetário Internacional (FMI).


A expectativa é que, ao final da cúpula, os presidentes assinem uma declaração sinalizando a disposição de criar a instituição, mas sem fixar os detalhes.Ela afirmou que certamente os líderes do Brics deverão abordar a necessidade de mudanças na estrutura do FMI. Os países do bloco têm interesse na reformulação da entidade e, no caso do Banco Mundial, a posição defendida pelos países do grupo é a de que as nomeações sejam pelo critério de mérito e não por indicação política. Fonte: Agência Brasil

A ameaça da água engarrafada

Portal Vermelho




A privatização dos recursos hídricos vem avançando nos últimos anos e está agravando o estabelecimento de políticas que priorizem interesses maiores para a sociedade como a saúde pública, em especial nas regiões mais periféricas e carentes. É o que alertam especialistas ouvidos pelo Vermelho. O assunto vem à tona nesta semana, por conta do Dia Mundial da Água (22 de março), determinado pela Organização das Nações Unidas (ONU) na Rio 92.“O sistema capitalista está avançando no processo de privatização dos recursos naturais, inclusive a água. E isso tem levado empresas ao controle, como a Pepsi e Coca-cola, que atualmente são grandes detentoras e revendedoras de água engarrafada. Tem várias empresas que detêm o controle da distribuição de água, em grandes centros urbanos importantes”, adverte Aldo Arantes, secretário de Meio Ambiente do PCdoB.

Em sua avaliação, a questão se agravou ainda mais com o surgimento do neoliberalismo, que reduziu em muitos países o papel do Estado, fragilizando instrumentos essenciais de contenção dos processos de exploração dos recursos naturais.“É preciso ter consciência da importância e da gravidade da crise da água. O consumo em nível mundial está crescendo de forma vertiginosa, o que reduz a oferta de água potável. Isso decorre porque o sistema capitalista predatório não leva em conta os interesses maiores da sociedade. Utiliza de maneira indiscriminada agrotóxicos, não preserva as áreas de proteção e recursos hídricos, nas cidades há muitos detritos nos leitos dos rios”, acrescenta Aldo Arantes.

O tema eleito para este ano é “A água e a segurança alimentar”. O organismo faz um alerta: é preciso usá-la de maneira mais racional na agricultura, atividade que mais consome recursos hídricos.Aldo Arantes acrescenta que, além da agricultura, a pecuária é outra atividade que está entre as que mais consomem o recurso natural. Para se produzir um quilo de trigo, são necessários 1.500 litros de água. Já para produzir um quilo de carne é necessária 10 vezes a mesma quantidade de água.Centros Urbanos Com relação ao consumo e à qualidade da água nas grandes cidades, o professor José Luiz Negrão Mucci, do departamento de Saúde Ambiental, da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), é otimista. Para ele, as novas gerações já estão dando sinais de uma mudança cultural no comportamento. No entanto, ele ressalta que é preciso continuar insistindo em campanhas e na educação ambiental.“A gente percebe que há uma mudança nas novas gerações.

Os pequenos já pensam diferente de seus pais. Mas ainda não causou um grande impacto no comportamento social. Estou há 20 anos ensinando os mesmos conteúdos aos futuros professores. Pouco se avançou na inclusão da temática nas salas de aula e, consequentemente, nossos rios e reservatórios permanecem poluídos. Claro que o poder público também deixa de fazer o seu papel”, declarou José Luiz Negrão Mucci. Um exemplo citado por ele é o do Rio Tietê, que há anos o governo do estado vem anunciando sua despoluição, mas nada acontece. Há alguns projetos, mas que visam somente a prevenção de enchentes, com o rebaixamento da calha.

“A propaganda que incentiva práticas individuais tem o seu significado. Mas a questão de fundo é a política pública. É o estabelecimento de regras e o controle do poder público. Daí a importância do papel do estado nesse processo. Isso não exclui a atitude individual. Mas colocá-la como algo que vá resolver o problema é despolitizar a questão”, conclui Arantes. De São PauloDeborah Moreira

Dieese aponta ganho real nos salários de 87% dos trabalhadores em 2011



A maior parte dos trabalhadores obteve no ano passado aumento salarial acima da inflação, segundo pesquisa divulgada hoje (21) pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). De um total de 702 unidades de negociação registradas em 2011 no Sistema de Acompanhamento de Salários do Dieese, 87% conseguiram reajustes acima da inflação. Apenas 8% foram corrigidos pela inflação e 6% abaixo dela.

De acordo com o Dieese, o resultado confirma a tendência observada nos últimos anos - quando a maioria das categorias profissionais analisadas conquistou aumentos reais para os salários nas negociações de data-base.

O comércio foi o setor que apresentou o maior percentual de negociações com aumento real de salários – cerca de 97%. Somente 2% tiveram reajustes com os mesmos percentuais da inflação e pouco mais de 1% perdas reais.

Na indústria, 90% das negociações foram com aumentos reais e 3% abaixo. Já no setor de serviços, 76% obtiveram aumentos reais, 12% iguais ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e 12% abaixo.

Dentre as categorias de serviços, os que trabalham em bancos e empresas de seguro privados tiveram o segundo maior percentual de reajuste, com 1,78% de ganho real. O maior índice foi obtido pelo segmento do turismo e hospitalidade, com 1,86%.

Preocupação

Para o presidente da CTB, Wagner Gomes, os dados apresentados pelo Dieese são positivos, mas trazem à tona a vulnerabilidade da economia brasileira na atualidade. “Felizmente houve sucesso nas negociações salariais. Ao lado do reajuste do salário mínimo, esse aumento salarial acima da inflação foi um dos grandes responsáveis para evitar um vexame no PIB do país em 2011”, afirmou o dirigente, referindo-se aos 2,7% de crescimento do Produto Interno Bruto nacional registrado no ano passado.

Wagner Gomes entende que grande parte do sucesso obtido pelas categorias em 2011 se deve ao recente fortalecimento do movimento sindical no país, com maior organização e presença junto ao dia a dia da classe trabalhadora. Além disso, o presidente da CTB entende que os dados do Dieese reforçam a luta das centrais sindicais por mudanças na política econômica do Brasil.

“Só tivemos algum crescimento no ano passado por conta da exportação de commodities e da força do nosso mercado interno, aquecido por esses reajustes salariais. Precisamos continuar reduzindo os juros, mexer no sistema cambial e enfrentar com inteligência os problemas enfrentados por nossa indústria, para evitar um novo ‘pibinho’”, afirmou o dirigente.

Clique aqui para ler a íntegra da pesquisa do Dieese

Portal CTB, com informações da Agência Brasil

quinta-feira, 22 de março de 2012

China e o novo centro dinâmico



O sucesso do milagre econômico chinês apresentou ao mundo uma novidade quase não imaginada frente à inconteste hegemonia estadunidense. Seja na evolução do comércio externo ou na presença crescente dos investimentos externos, a China se posiciona de forma cada vez mais sólida como eixo integrador da dinâmica mundial.


Antes da crise do capitalismo global, a economia estadunidense apresentava sinais de certa decadência frente ao seu esvaziamento produtivo e da relativa perda de importância do dólar. Mas, a partir de 2008, a perda de influência norte-americana tornou-se cada vez mais evidente, sobretudo quando se considera o sucesso transformista chinês.


Para piorar, os Estados Unidos passam a apresentar sinais crescentes de subdesenvolvimento, como no caso da concentração de renda. Nas últimas três décadas, por exemplo, o segmento constituído pela faixa do 1% mais rico da população teve a sua renda aumentada em 256%, enquanto o rendimento dos pobres subiu somente 11%. Como resultado disso, os EUA voltaram a deter um padrão de desigualdade de renda somente verificado antes da Depressão de 1929.


Diante do descenso estadunidense e do auge chinês, os governos têm a oportunidade de rever estrategicamente o posicionamento de suas economias. Do contrário, a trajetória das relações comerciais e de investimento com a China tende cada vez mais a aprofundar as características históricas já notabilizadas, especialmente durante a antiga ordem internacional estabelecida a partir da Inglaterra. Como a China atual, o Reino Unido dependia fortemente de produtos primários, enquanto se mantinha como forte produtor e exportador de produtos manufaturados. Ou seja, dava-se o estabelecimento de uma convergência internacional para a produção e exportação de produtos primários e simultânea dependência da dinâmica local à internacionalização dos seus parques produtivos segundo a lógica inglesa.


Em geral, a China passa a deter não somente relações comerciais como presença de investimento superiores às dos EUA. Por meio da globalização financeira, não obstante os sinais de certo esvaziamento do seu papel monetário (fim do padrão ouro-dólar nos anos 1970) e de enfraquecimento relativo de sua produção e difusão tecnológica, os Estados Unidos se transformavam praticamente num império unipolar. Tanto assim que prevaleceu a concepção de pensamento único e visão de fim da História, com predomínio da democracia liberal e do livre mercado.


Nos dias de hoje, com o esgotamento do movimento de globalização financeira, registrado por várias crises de dimensão internacional, o milagre chinês ascendeu rapidamente. Assim, a expansão da economia do país possibilitou que em apenas dez anos a sua produção fosse triplicada, contrastando com a realidade estadunidense. Somente entre 1999 e 2010, por exemplo, a variação acumulada do Produto Interno Bruto dos Estados Unidos foi equivalente a apenas 1/8 da verificada na China.


No mesmo sentido, o país asiático responde cada vez mais por uma maior parcela da produção de manufaturados do mundo; em 2009, representou 18% do valor agregado industrial mundial. A participação chinesa no valor adicionado mundial na indústria de transformação de alta tecnologia também saltou de 4%, em 2000, para 18%, em 2009. Atualmente, a China assume a condição de segunda nação mais importante na produção de material de escritório e informática do mundo, na produção de material de rádio, TV e comunicação, e a primeira na produção de veículos automotores e nos investimentos na indústria aeroespacial, de supercomputadores e de núcleos eletrônicos, entre outras posições estratégicas mundiais.


Por conta disso, a China deve ultrapassar a posição dos EUA durante a segunda década do século XXI, embora isso não signifique necessariamente o desaparecimento das centralidades dinâmicas das economias pertencentes à União Europeia e aos Estados Unidos, mas o que se destaca é o aparecimento de um mundo multipolar. Além da Ásia – especialmente a China e Índia – há um espaço regional capaz de gerar uma nova centralidade dinâmica no sul do continente americano, com forte importância para a economia brasileira.


Em síntese, o Brasil passa a ter maior relevância num novo contexto mundial multipolarizado, bem distinto daquele verificado durante o momento de sua constituição, em que os Estados Unidos exerciam uma centralidade unipolar. Mas o seu reposicionamento deve partir de um olhar de mais longo prazo, uma vez que as alternativas estão postas. O deslocamento do centro dinâmico estabelece oportunidades inequívocas de reforço da pujança econômica brasileira. Mas isso pode ocorrer tanto pelo lado da Fazenda, Mineração e Maquiladora dos Produtos Manufaturados (FAMA), como pela via do encadeamento dos sistemas produtivos a partir de maior agregação do Valor Agregado e Conhecimento (VACO).


As alternativas estão postas, com a China presente no novo centro dinâmico mundial. Ao Brasil, cabe uma decisão clara e objetiva em torno do papel que deseja desempenhar neste novo contexto internacional.


Esta crônica é parte integrante da edição 105 da revista Fórum

Instruções para um intelectual latino-americano que queira escrever no El País



Se você é membro dessa classe incompreendida dos intelectuais latino-americanos e deseja expor suas ideias nesse baluarte do progressismo peninsular que é El País, siga estas instruções para que seu artigo tenha sucesso.

Por Daniel Plotkin


Tradução de Idelber Avelar


1. Toda a sua análise deve se basear nos conceitos de caudilhismo e populismo. Em última instância, estes conceitos explicam a história da América Latina desde o século XIX, sem ter que entrar em complexidades históricas que entediam o leitor. A história dos nossos países não mudou desde a época da Independência.


2. Mencione a pobreza e a fome, produtos do caudilhismo e do populismo. É bom mostrar um pouco da sensibilidade do pensador comprometido com a realidade social. Mas esclareça que a pobreza e a fome são culpa exclusiva dos nossos povos, evitando usar palavras desagradáveis do tipo “colonialismo”, “imperialismo” ou “saqueio dos recursos naturais”. Menos ainda, não tenha o mau gosto de se referir à escravidão ou à exploração das comunidades indígenas.


3. Não se esqueça de falar da corrupção. E de esclarecer que a corrupção em nossos países é produto da fome e da pobreza, que são produto do caudilhismo e do populismo. Tenha a delicadeza de não mencionar que são as companhias multinacionais (incluídas as espanholas) as que pagam suculentos subornos para obter benefícios impensáveis em seus países de origem. Explique aos seus leitores que a corrupção é sempre culpa da classe política latino-americana.


4. Insista que as instituições não funcionam, produto da corrupção que é produto da fome e da pobreza, que são produto do caudilhismo e do populismo. As instituições latino-americanas estão em constante crise e nossos países têm democracias limitadas. Use anedotas insignificantes do ponto de vista estatístico, mas que ressoem na mente de seu leitor. Por exemplo, conte-lhes como é difícil obter algum certificado num Ministério qualquer. Ou como é fácil subornar um agente alfandegário. Mesmo que você não tenha jamais feito nenhuma das duas coisas.


5. Lembre a seus leitores que os governantes latino-americanos só procuram se perpetuar no poder – o que demonstra o caudilhismo e o populismo que geram instituições falidas e corrupção. Não importa se na Espanha o chefe de estado é um monarca hereditário que governa há 37 anos e foi nomeado por um ditador que governou o país quase 40 anos. Não mencione sequer que Felipe González governou durante 14 anos com 5 mandatos sucessivos. Isso é muito diferente de um presidente latino-americano que pretende ter 3 mandatos por 12 anos. Neste último caso, estamos ante uma clara tentativa de perpetuar-se no poder. Na Espanha, não, porque as instituições funcionam.


6. Não se esqueça de temperar tudo isso com alguma referência a uma palestra sua em algum fórum internacional, fora dos países latino-americanos cheios de caudilhismo e populismo. A apresentação de um paper numa universidade norte-americana é suficiente para demonstrar que você é diferente do resto dos pensadores latino-americanos que só escrevem na mídia local. Alternativamente, você pode mencionar alguma bate-papo num café que você teve há cinco anos com algum escritor espanhol da moda. Se algum livro seu foi publicado pela Alfaguara ou Crítica, esclareça-o de passagem no primeiro parágrafo. Seu sucesso estará garantido.


7. Use alguma citação de um latino-americano ilustrado, como Borges, Cortázar ou García Márquez. Roberto Bolaño também serve.


8. Lembre-se que o Brasil não existe. Exceto para elogiar as políticas de “esquerda inteligente” de Lula.


9. Fidel Castro é mau, muito mau. Mesmo que, claro, diga que a Revolução Cubana teve alguns sucessos menores nos campos da saúde e da educação.


10. Chávez também é mau, muito mau. E sem sucessos menores.


11. Os governos progressistas latino-americanos querem destruir a imprensa independente, como consequência de sua genética caudilhista e populista. Não como a esquerda inteligente da Alan García ou o centro moderado de Piñera ou Santos.


12. A imprensa privada latino-americana sempre é independente. Os monopólios ou oligopólios midiáticos não existem.


13. A América Latina ainda está em transição democrática, como consequência do caudilhismo e do populismo que ainda imperam. A Espanha já a superou, pela maturidade da sociedade espanhola e a inteligência de sua classe dirigente.


14. Para finalizar, esclareça que esta situação gera angústia e desconforto, e que seu refúgio está no pensamento crítico de alguns intelectuais que, como você, não foram comprados pelo poder corrupto ou pelas ideologias acabadas imperantes em nossos países.


Seguindo estes conselhos, o seu artigo será lido com interesse pelos leitores de El País. Você conseguirá confirmar-lhes o que eles já pensam mas não podem dizer abertamente porque isso iria contra aquilo que eles acreditam ser suas convicções de esquerda. Você também obterá uma suculenta remuneração em euros que não deverá depositar em seu país, já que a qualquer momento ela poderá ser roubada pelos governos corruptos, produtos da fome e da pobreza, produtos do caudilhismo e do populismo.

Original em espanhol publicado aqui.

quarta-feira, 21 de março de 2012

ObservaPED realiza fórum virtual sobre bullying




O Observatório da Saúde da Criança e do Adolescente (ObservaPED), ligado ao Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da UFMG, em parceria com a Secretaria de Estado da Saúde de Minas Gerais (SES/MG), promove, até o dia 31 de março, um fórum virtual sobre bullying, nome dado ao comportamento de intimidação por meio de violência em ambiente escolar.


As discussões são em torno de três aspectos principais: implicações e impactos do bullying na saúde dos escolares, o questionamento sobre a contemporaneidade deste sintoma e o uso excessivo, por vezes equivocado, do diagnóstico.


Para participar do debate, basta acessar o endereço eletrônico http://www.medicina.ufmg.br//observaped e se registrar, na aba “Fórum”. Um tutorial está disponível para a publicação de perguntas e respostas, vídeos e novos tópicos.

ObservaPED


O Observatório da Saúde da Criança e do Adolescente é um espaço para análise sistemática e permanente de eventos, fatos, evidências e acontecimentos sobre a saúde da criança e do adolescente.


Previdência não é deficitária, afirma especialista




Entidades sindicais, entre elas o Sinpro Minas, promoveram, em 17de março, em Belo Horizonte, seminário para debater os desafios da Previdência Social brasileira. Cerca de 300 pessoas, entre especialistas, pesquisadores, professores e sindicalistas, discutiram temas como o fator previdenciário, a desaposentadoria, o mercado de trabalho e a saúde dos trabalhadores.


O vice-presidente da Anfip (Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil), Floriano Martins, rebateu a tese de que a Previdência é deficitária. Segundo ele, esse erro é decorrente do cálculo que considera apenas as contribuições dos trabalhadores. O correto, ressalta Martins, é levar em conta todas as fontes de receita, o que resulta num superávit de R$ 58 bilhões em 2010. Para ele, as mudanças anunciadas pelo governo no sistema previdenciário, caso sejam aprovadas, não vão trazer benefícios para os trabalhadores. Tendem, segundo ele, a aumentar o tempo de contribuição ou reduzir o benefício.


Na avaliação de Anselmo Luis dos Santos, professor do departamento de Economia da Unicamp e diretor-adjunto do Cesit (Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho), o fortalecimento da Previdência Social no Brasil passa pela expansão da atividade econômica. “Mais emprego e massa salarial mais elevada incidem sobre a contribuição para o sistema previdenciário, para as condições de financiamento da Previdência”, destacou.


Apesar da crise financeira na Europa, a expectativa do economista para este ano não é ruim. “Desde o ano passado, temos uma política de redução da taxa de juros, que deve começar a ter impactos positivos a partir de julho, e portanto devemos ter um segundo semestre melhor que o primeiro. Isso deve fazer com que a gente feche o ano com geração de empregos”, afirmou Anselmo Luis.


Para o presidente do Sinpro Minas, Gilson Reis, o objetivo do seminário foi construir um conjunto de propostas de interesse dos trabalhadores, a fim de pressionar os parlamentares a defendê-las nas votações no Congresso. “Esperamos com o seminário contribuir não somente com o debate, mas com a elaboração concreta de propostas para enfrentar as dificuldades que ainda vivemos no sistema previdenciário no Brasil”, disse Gilson Reis.


Saúde do trabalhadorNa oficina benefícios previdenciários e saúde do trabalhador, os participantes discutiram medidas para tornar o ambiente de trabalho no país mais saudável. Para o palestrante, o professor e pesquisador da Faculdade de Tecnologia da UNB Paulo Rogério Albuquerque, o ambiente profissional no Brasil é nocivo à saúde do trabalhador. “São 2 milhões de trabalhadores que chegam todo o ano ao balcão do INSS. Estamos vivendo uma calamidade pública que infelizmente não foi enfrentada de forma devida”, avaliou Albuquerque, em entrevista ao Sinpro Minas.

Segundo ele, não há, por parte do empregador, preocupação com a saúde dos trabalhadores. “O empregador faz questão que a máquina fique inteira durante 20, 30 anos. Há todo um plano de manutenção, uma preocupação com a máquina. E essa preocupação não acontece com o operador da mesma máquina. No Brasil há um contrassenso. Não há norma para proteger a máquina, e ela é protegida. E há um monte de norma para proteger o trabalhador, que na verdade é um faz de contas”, afirmou. Segundo ele, a Previdência gasta anualmente R$ 20 bilhões para garantir os benefícios decorrentes de acidentes de trabalho e doenças ocupacionais.


Ao falar sobre a dificuldade que os trabalhadores enfrentam para comprovar o nexo entre a doença ocupacional e a atividade profissional, Albuquerque defendeu uma maior divulgação da lei 11.430/06, que inverte o ônus para prova para esses casos, ou seja, passa a ser obrigação da empresa comprovar que não há relação entre a doença desenvolvida por seu empregado e a atividade profissional dele.