quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Disque-denúncia registra um caso de violência a cada seis dias





Levantamento do disque-denúncia (0800 770 3035) criado pelo Sindicato dos Professores de Minas Gerais (Sinpro Minas) revela que, em média, uma denúncia de violência em escolas particulares de Minas Gerais é feita a cada 6 dias. Entre fevereiro (mês em que o serviço começou a funcionar) e setembro, 40 ligações com denúncias relativas à rede privada foram registradas, com ocorrências de ameaças, intimidações, agressões verbais, físicas, assédio moral (violência psicológica) e até tráfico de drogas.

Em relação aos sujeitos envolvidos nos casos relatados, a maioria refere-se ao par aluno-professor, mas há também situações em que pais e direção da escola estão envolvidos. O serviço também recebeu 43 denúncias de violência na rede pública de ensino. Ao somar todas as ligações registradas, chega-se a uma média de uma denúncia de violência em escolas particulares e públicas a cada três dias. Os dados foram divulgados nessa segunda-feira (3/10), durante coletiva de imprensa, no auditório do sindicato.

Cenário preocupante

Para o Sinpro Minas, o resultado é grave. “A escola é o ambiente da paz, da promoção do diálogo, do aprendizado e da troca de saberes e experiências. Jamais podemos aceitar qualquer episódio de violência nesse espaço”, afirma Gilson Reis, presidente do sindicato.

Ele acredita que o quadro atual é mais preocupante e os números são ainda maiores. “Várias denúncias são feitas pessoalmente no sindicato, quando os professores nos visitam, mas eles temem formalizá-la por meio do disque-denúncia. Nós os orientamos nesse sentido, mas os docentes se recusam a romper a cultura do silêncio que ainda impera em nossa sociedade, por medo de sofrer algum tipo de retaliação da direção da escola ou do próprio agressor”, aponta.

O presidente do Sinpro Minas voltou a criticar o “silenciamento dos professores” na rede privada. “Há uma pressão muito grande das escolas para que os casos não sejam denunciados e a situação seja acobertada. Isso faz com que a violência aumente e o problema não seja resolvido”, denunciou, depois de informar que, dos casos registrados pelo disque-denúncia, apenas uma instituição de ensino tomou providências. “As escolas privadas não têm tomado medidas para solucionar o problema. Elas não podem ser omissas”. Segundo ele, os professores precisam romper essa cultura do silêncio e denunciar. “Só assim poderemos traçar um diagnóstico mais completo do quadro e buscar, após debate com toda a sociedade, soluções para o problema”.

Homenagem

Durante a divulgação dos dados, Maria dos Anjos Castro, mãe do professor Kássio Vinícius Castro Gomes, e a mulher dele, Simone Caixeta, receberam uma flor como símbolo da paz nas escolas. O docente foi morto no final do ano passado por um aluno, dentro do Instituto Izabela Hendrix, em Belo Horizonte, enquanto lecionava. Num relato emocionado, Simone Caixeta lembrou a dedicação do marido à educação. “Era um profissional extremamente competente, que sempre prezava pelo bom relacionamento. Infelizmente, acabou sendo vítima”.

Ela criticou a decisão em primeira instância da Justiça que indeferiu o pedido para que a instituição de ensino pague indenização e pensão aos dois filhos do casal. “Vamos recorrer, mas nos entristece muito pensar que Kássio morreu no seu ambiente de trabalho, no exercício da profissão, e isso não foi observado”.

Para o Sinpro Minas, o poder público precisa adotar medidas efetivas no combate à violência no interior das escolas e pela criação de uma cultura de paz. No início deste ano, o sindicato encaminhou dois ofícios ao Conselho Estadual de Educação, solicitando uma reunião para discutir o assunto, mas, até o momento, não obteve retorno.

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