sexta-feira, 17 de dezembro de 2010
BH em chamas
A capital dos mineiros, conforme o IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, contabilizou no censo de 2010 cerca de 2.375 milhões de habitantes. O município de BH, como é carinhosamente conhecida, que no último censo demográfico ficou na condição de quarta maior cidade do país, passou desta feita para o posto de sexta em concentração demográfica. Mesmo perdendo o posto para outras cidades, obtendo um crescimento relativo, a capital mineira continua colecionando diversos problemas urbanos: estruturais e sociais, a exemplo das grandes cidades brasileiras.
Todavia, não é pelo fato de perder a condição de terceira maior cidade do Brasil que Belo Horizonte passará a exercer no próximo período um menor protagonismo na luta política nacional, pelo contrário. A situação política consolidada a partir das duas últimas eleições, decorrente de alianças políticas confusas, aumentou as contradições e a responsabilidade dos mineiros da capital com o projeto de Brasil que queremos. As eleições de 2008 e a confirmação de Aécio Neves como a maior liderança política das alterosas nas eleições de 2010 é o resultado de erros políticos e eleitorais imperdoáveis, que precisamos urgentemente contornar para possibilitar o reinício da construção de um novo ciclo político.
O projeto democrático e popular iniciado em 1992, inaugurado com a eleição de Patrus Ananias, foi a consolidação de um longo processo político e eleitoral que evoluía desde a abertura democrática na década de oitenta. A eleição das forças democráticas e progressistas em Belo Horizonte possibilitou a implantação de um novo conceito de administração pública orientado pela participação popular, inversões de prioridades nas áreas sociais, respeito aos movimentos populares e sindicais e aprimoramento da máquina administrativa. A eleição na capital irradiou pelo interior do estado e possibilitou ao longo dos anos a eleição de dezenas de prefeitos progressistas, criando um novo ambiente político na conservadora Minas Gerais.
Esse processo que vinha evoluindo com sucessivos governos municipais (Célio de Castro e Fernando Pimentel) e ampliado com a eleição de Lula em 2002, foi rompido em 2008. A precipitada e irresponsável aliança política e eleitoral patrocinada pelo então prefeito Pimentel e agarrada com unhas e dentes pelo governador tucano Aécio Neves, encerrou um ciclo de dezesseis anos de governo democrático e popular. A eleição de Márcio Lacerda para a prefeitura de BH, afilhado do governador tucano, possibilitou o retorno do PSDB e de forças conservadoras no comando da capital mineira depois de duas décadas.
O resultado prático desta inimaginável aliança eleitoral foi o abandono promovido pelo poder municipal das principais conquistas democráticas do período anterior. A concepção do choque de gestão, o conceito gerencial de permanentes avaliações estatísticas e de focalização das políticas públicas, o atrofiamento dos espaços de participação popular, o desrespeito aos movimentos populares e sindicais, a centralização da administração pública e o conservadorismo político é a tônica da atual administração. Mesmo com todos as ações apontando para uma consolidação de rumo voltados para os interesses estratégicos do Palácio da Liberdade, o prefeito da capital, Márcio Lacerda, equilibrou-se entre o projeto tucano na eleição estadual e o apoio no segundo turno à Dilma Rousseff, sendo um dos mentores da dobradinha “dilmasia” e “pimentécio”.
A ausência de nitidez programática, o oportunismo político, os projetos pessoais, a disputa interna no partido dos trabalhadores, as distorções de trabalhistas e socialistas, entregues ao projeto liberal conservador de Aécio Neves, resultaram na primeira derrota eleitoral das forças progressistas na cidade de Belo Horizonte desde as eleições de 1989 (Collor x Lula). O que vimos foi uma esmagadora vitória do projeto tucano mineiro: na cidade de BH, no Estado de Minas, incluindo no processo a derrota de Serra para Dilma no segundo turno. O resultado foi a eleição do governador Antônio Anastasia, dos senadores Aécio e Itamar e de uma bancada de deputados estaduais e federais capazes de sustentar o projeto liberal e conservador para os próximos quatro anos e ainda servir de degrau para o projeto presidencial Aécio 2014.
Nesse ambiente de derrota e num cenário confuso e conflitante, que se desenvolve, desde as primeiras horas pós o segundo turno eleitoral, o processo sucessório de Belo Horizonte 2012. A primeira medida do prefeito foi propor uma nova reforma administrativa que caminha para uma maior centralização de poder, a exclusão de setores progressistas da máquina administrativa e uma aproximação maior com os tucanos e partidos que gravitam na órbita do projeto Aécio Presidente. A contrapartida do Palácio da liberdade ao prefeito Lacerda é a possibilidade de transformá-lo em candidato ao governo de Minas nas eleições de 2014, já que o atual governador não poderá se candidatar no próximo pleito.
Nesse contexto os “arquitetos” do projeto 2014 operam a eleição da presidência da câmara de vereadores. Os líderes políticos articulados com o prefeito e o palácio da liberdade tentam de todas as formas emplacar um vereador comprometido, desde já, com o projeto estratégico do tucanato mineiro. Enquanto isso, a divisão no interior do partido dos trabalhadores continua a todo vapor, e os partidos do espectro popular, divididos e distantes de um acordo viável.
Precisamos sentar, todas as forças populares e progressistas da cidade em torno de uma mesa e aparar as arestas acumuladas ao longo dos últimos meses. Precisamos apagar as labaredas que queimam as possibilidades de um futuro muito melhor para Minas e Brasil. Precisamos organizar e propor um novo programa de governo para a cidade de Belo Horizonte, comprometido com o avanço social e estrutural da cidade. Precisamos pensar em educação de qualidade, saúde eficiente, moradia popular, transporte coletivo, segurança pública, meio ambiente saudável. Precisamos apresentar aos belo-horizontinos que já foram parceiros de um de um novo tempo, contornos de um projeto que avance para um novo ciclo de desenvolvimento sustentável, democrático e popular. Precisamos apagar o fogo de vaidades e descortinar um horizonte mais belo, justo e democrático para a capital dos mineiros.
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