quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Dilma vai à festa da Folha — e à cova dos leões



Leandro Fortes

Na íntegra do discurso de Dilma Rousseff proferido na cerimônia de aniversário de 90 anos da Folha de S.Paulo, disponibilizado na internet pela página do Portal UOL, lê-se, não sem certo espanto: “Estou aqui representando a Presidência da República. Estou aqui como presidente da República”.

Por Leandro Fortes, no blog Brasília, eu Vi


Das duas uma: ou Dilma abriu mão, em um discurso oficial, de sua batalha pessoal para ser chamada de “presidenta”, ou, mais grave, a transcrição de seu discurso foi alterada para se enquadrar aos ditames do anfitrião, que a chama ostensivamente de “presidente”, muito mais por birra do que por purismo gramatical.

Caso tenha, de fato, por conta própria, aberto mão do título de “presidenta” que, até então, lhe parecia tão caro, este terá sido, contudo, o menor dos pecados de Dilma Rousseff no regabofe de 90 anos da Folha.

Explica-se: é a mesma Folha que estampou uma ficha falsa da atual presidenta em sua primeira página, dando início a uma campanha oficial que pretendia estigmatizá-la, às vésperas da campanha eleitoral de 2010, como terrorista, assaltante de banco e assassina. A ela e a seus companheiros de luta, alguns mortos no combate à ditadura.
Ditadura, aliás, chamada de “ditabranda”, pela mesma Folha.

Esta mesma Folha que, ainda na campanha de 2010, escalou um colunista para, imbuído de sutileza cavalar, chamá-la, e à atual senadora Marta Suplicy, de vadia e vagabunda.

Essa mesma Folha, ora homenageada com a presença de Dilma Rousseff.

Digo o menor dos pecados porque o maior, o mais grave, o inaceitável, não foi o de submeter a Presidência da República a um duvidoso rito de diplomacia de uma malfadada estratégia de realpolitik. O pecado capital de Dilma foi ter, quase que de maneira singela, corroborado com a falsa retórica da velha mídia sobre liberdade de imprensa e de expressão.

Em noite de gala da rua Barão de Limeira, a presidenta usou como seu o discurso distorcido sobre dois temas distintos transformados, deliberadamente, em um só para, justamente, não ser uma coisa nem outra. Uma manipulação conceitual bolada como estratégia de defesa e ataque prévios à possível disposição do governo em rever as leis e normas que transformaram o Brasil num país dominado por barões de mídia dispostos, quando necessário, a apelar para o golpismo editorial puro e simples.

A liberdade de expressão que garantiu o surgimento de uma blogosfera crítica e atuante durante a guerra eleitoral de 2010 nada tem a ver com aquela outra, defendida pela Associação Nacional dos Jornais, comandada por uma executiva da Folha de S.Paulo. São posições, na verdade, antagônicas. A Dilma, é bom lembrar, a Folha jamais pediu desculpas (nem a seus próprios leitores, diga-se de passagem) por ter ostentado uma ficha falsa fabricada por sites de extrema-direita e vendida, nas bancas, como produto oficial do Dops. Jamais.

Ao comparecer ao aniversário da Folha, a quem, imagina-se, deve ter processado por conta da ficha falsa, Dilma se fez acompanhar de um séquito no qual se incluiu o ministro da Justiça. Fez, assim, uma concessão que está no cerne das muitas desgraças recentes da história política brasileira, baseada na arte de beijar a mão do algoz na esperança, tão vã como previsível, de que esta não irá outra vez se levantar contra ela. Ledo engano. Estão a preparar-lhe uma outra surra, desta feita, e sempre por ironia, com o chicote da liberdade de imprensa, de expressão, cada vez mais a tomar do patriotismo o status de último refúgio dos canalhas.

Dilma foi torturada em um cárcere da ditadura, esta mesma, dita branda, que usufruiu de veículos da Folha para transporte e remoção de prisioneiros políticos – acusação feita pela jornalista Beatriz Kushnir no livro Cães de Guarda (Editora Boitempo), nunca refutada pelos donos do jornal.

A presidenta conhece a verdadeira natureza dos agressores. Deveria saber, portanto, da proverbial inutilidade de se colocar civilizadamente entre eles.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

A herança maldita de Lula ?



Artigo - Gilson Reis

O PIG (Partido da Mídia Golpista), articulado com os demotucanos e assessorado pelos neófitos neoliberais do PPS, desenvolve nas últimas semanas dois movimentos políticos simultâneos.

Primeiro, transformar a presidenta Dilma Rousseff na representante dos interesses do mercado, na gestora competente, discreta, eficiente e dura. Editorialistas da grande mídia, que até pouco tempo a tratavam como uma mulher despreparada e artificial, tratam-na agora como a dama de ferro dos trópicos, pragmática, pouca afeita a badalações e discursos desconexos e rudes do seu antecessor.

Segundo, transformar o presidente Lula e seu governo no grande responsável pela crise artificial que passa o país e o mundo nesse início de ano, provocada principalmente pela especulação de commodities agrícolas. Conforme os golpistas de plantão, o aumento dos juros ocorrido no último período, a alta da inflação, o descontrole dos gastos públicos, o aumento do custeio da máquina pública, tudo isso decorre do desgoverno e da irresponsável gestão do ex-presidente Lula. O mais incrível dessa onda artificial é identificar que um dos mentores e garoto-propaganda da campanha é o presidente Fernando Henrique Cardoso.
Embora tenha governado o país por longos oito anos, FHC foi obrigado a ficar no anonimato da luta política brasileira no curso dos dois mandatos do presidente Lula. A solidão imposta ao sociólogo originava das pesquisas de opinião pública, que confirmava a cada nova amostragem o extraordinário nível de rejeição do grão-tucano perante a população brasileira. O PSDB, partido do presidente FHC, teve que escondê-lo nas duas últimas eleições, pois suas aparições representavam desgaste para os candidatos do partido.
O motivo que levou FHC a esse descrédito incomparável está relacionado ao modelo de gestão praticado em seus oito anos de governo neoliberal, que ficou nacionalmente conhecido como a herança maldita de FHC.

Governo FHC: privatizações, aumento da dívida pública, endividamento externo, acordos com o FMI, crescimento médio de 2% do PIB, destruição do estado nacional, terceirização da máquina pública, demissão de 98 mil servidores, mercantilização da saúde e da educação, destruição das universidades públicas e dos Cefets, submissão do país aos interesses dos EUA na Alca e na base militar de Alcântara, relações de desprezo com nossos vizinhos da América Latina. Sem contar a reforma da previdência, a desregulamentação dos direitos trabalhistas e previdenciários, a criminalização dos movimentos populares, desemprego, apagão, destruição da infra-estrutura do Estado brasileiro e inúmeras outras ações que tanto mal fizeram ao país e aos brasileiros.
Conforme FHC e seus interlocutores da mídia golpista, vivemos nesse início de ano as conseqüências de uma gestão pública irresponsável e contrária aos interesses do Brasil. Nesse cenário de intrigas e pressões, crescem as manobras de uma elite sedenta de vingança. Para alcançar seus objetivos, tenta de forma desesperada atacar a gestão do presidente Lula com a seguinte palavra de ordem: a herança maldita de Lula. Todavia, é preciso afirmar que entre o real e a fantasia temos um largo caminho.
Governo Lula: geração de 14 milhões de empregos, formalização do mercado de trabalho, aumento real de 74% do salário mínimo, aumento da participação dos salários na renda nacional, aumento médio do PIB de 4%, exportações e balança comercial com superávit recorde, reserva de 300 bilhões de dólares, controle da inflação, redução da taxa básica de juros, controle da dívida interna, menor risco país na história, aumento de 132%, em termos nominais, do investimento em saúde, e de 360% no investimento na educação, expansão das universidades e da educação profissional, 500% de aumento de investimento na cultura, 12,6 milhões de famílias incluídas no Bolsa-família. O PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) investe bilhões de reais em energia, saneamento, rodovias, ferrovias, indústria naval, aeroportos. O programa Minha Casa Minha Vida disponibiliza recursos para a construção de três milhões de moradias, aumento de dois milhões de barris de petróleo, descobrimento e exploração do pré-sal. Contratação de 67 mil servidores públicos federais, investimento exponencial na agricultura familiar, realização de dezenas de conferências públicas, relação cordial e respeitosa com os movimentos popular e sindical, além de muitos outros benefícios para o país e para o povo.

Vivemos nesses quase dois meses de governo Dilma um cenário muito nebuloso. De um lado, um governo que assimila o programa e a prática da oposição derrotada, e uma permanente e midiática tentativa de cooptação do governo para prevalecer os interesses do mercado e da elite nacional, em detrimento dos trabalhadores. O palocismo germinando nas entranhas do Palácio de forma incontestável e incontrolável. Finalmente, podemos considerar que a herança maldita de FHC, que Lula absorveu e que Dilma sinaliza a sua continuidade, situa-se é justamente na política macroeconômica: política cambial, fiscal e monetária. Essa política é em síntese a responsável por todos os desajustes da economia nacional e internacional.
Enquanto isso, FHC reaparece nos holofotes da grande mídia como o injustiçado. FHC é agora o líder político mais preparado da história recente do país. E lula? Ah! Não passa de um metalúrgico que precisa ser esquecido pelo país. Lula não passa, conforme eles, de um despreparado líder que tanto mal fez ao Brasil.
Acorda, Dilma, o Brasil precisa avançar. Ou você se esqueceu da herança maldita de FHC?

Gilson Reis
Presidente do Sinpro Minas e da CTB Minas

sábado, 19 de fevereiro de 2011

MANUAL DA IMPRENSA GOLPISTA



Blog do Altamiro Borges

1 – Ser antipetista, mas sempre se dizendo um petista “arrependido devido à corrupção do governo Lula”.

2 – Afirmar que o êxito econômico e social do Brasil durante o governo Lula é mérito do governo FHC, ignorando todas as catástrofes sociais e econômicas que ocorreram no governo tucano.

3 – Afirmar que a ditadura militar de 1964 foi implantada para “impedir uma ditadura comunista no Brasil”, mas sem jamais perguntar onde estão as provas disso.

4 – Afirmar que a Venezuela é uma ditadura mesmo a despeito de que vige o voto livre no país e de que nenhuma das suas muitas eleições sofreu qualquer questionamento sério, tendo sido todas referendadas por observadores internacionais.

5 – Condenar previamente todos os petistas envolvidos no escândalo do mensalão – José Dirceu à frente – com base apenas no fato de que estão sendo julgados. E afirmar, peremptoriamente, que Lula foi o mentor de tudo.

6 – Dizer que todas as absolvições de petistas e aliados em processos judiciais decorrentes de escândalos inflados ou inventados pela mídia são produto de farsa jurídica, enquanto usa as absolvições jurídicas de tucanos para denunciar que foram vítimas de armações políticas.

7 – Jamais investigar qualquer denúncia contra o governo paulista ou contra qualquer tucano, limitando-se a fazer uma matéria meio antipática a cada seis meses ou um ano só para disfarçar, enquanto produz ataques diários a petistas e aliados.

8 – Afirmar que Lula foi culpado pelos desastres dos aviões da TAM e da Gol apesar de que as investigações e perícias mostraram que foram culpa de pilotos e do equipamento.

9 – Afirmar que Antonio Palocci violou o sigilo do caseiro Francenildo apesar de o atual ministro-chefe da Casa Civil ter sido absolvido pela Justiça.

10 – Ficar do lado da Itália e contra o Brasil na questão da extradição do ativista italiano Cesare Battisti, assumindo cada argumento italiano in limine e criticando sempre os motivos do governo brasileiro, ignorando qualquer argumento em contrário.

11 – Ficar sempre a favor de golpes ou tentativas de golpes de Estado contra governos de esquerda, como no caso de Honduras, Venezuela ou Bolívia, e ficar no mínimo isento em casos assim quando o governo for de direita.

12 – Sempre lembrar com muito, mas muito maior ênfase o que persiste de ruim no Brasil do que o que melhorou, atribuindo todos os problemas históricos do país ao governo Lula, acusando-o por não resolvê-los de uma vez e desconsiderando o que fez para diminui-los como nenhum outro governo.

13 – Sempre puxar o saco de FHC apesar de ele ser rejeitado por quase 80% da opinião pública, segundo as pesquisas sobre sua popularidade.

14 – Sempre tratar Serra como vítima do PT, apesar de ser talvez o político mais beligerante do país ao lado de Ciro Gomes.

15 – Sempre afirmar que o PT fez, sim, dossiês contra o PSDB, apesar de jamais ter surgido uma única prova cabal dessa hipótese.

16 – Sempre dizer que o estilo discreto de Dilma agrada mais a todos do que a “verborragia” de Lula, mas sempre sem dizer de onde tirou a informação.

17 – Garantir que Serra não foi atingido por uma bolinha de papel na campanha eleitoral passada, mas por um rolo de fita crepe pesando 1 quilo, ignorando as perícias de universidades dizendo o contrário.

18 – Bloquear, em colunas de cartas de leitores, quase todas as manifestações favoráveis ao PT ou a governos do “eixo do mal” de outros países, ou seja, de Cuba, Venezuela, Irã e Bolívia. E, ao mesmo tempo, brandindo sempre intenções de petistas de promoverem “censura”.

19 – Ser visceralmente contra cotas para negros nas universidades, afirmando sempre que formados através dessas cotas serão profissionais inferiores, apesar dos estudos das universidades que mostram que cotistas se saem igual ou melhor do que os não-cotistas.

20 – Tratar o MST como uma organização criminosa violenta apesar de os sem-terra serem vítimas de atrocidades homicidas praticadas pelos latifundiários, que dificilmente sofrem violência física na disputa pela terra.

21 – Entender, aceitar e defender a premissa de que jornalista que quer ganhar dinheiro e ser famoso hoje no Brasil só pode ter uma opinião: a do patrão.

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Deve faltar muita coisa nesse “manual” de antijornalismo da Imprensa golpista. Quem se lembrar de algo que não tenha sido mencionado pode complementar a lista, que irá sendo aumentada conforme as sugestões não-repetidas forem chegando.

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SUGESTÕES DOS LEITORES

22 – Afirmar, categoricamente, que o Bolsa Família significa “Bolsa Esmola” e que irá transformar milhões de brasileiros em vagabundos que vivem às custas do Estado.

23 – Definir o Lula como um sapo bêbado sortudo que surfou na maravilhosa economia global durante todo o seu mandato.

24 – Insistir que o Lula é quem considerava a Dilma um poste sem a menor qualificação para o cargo de presidenta do Brasil.

25 – Afirmar que os blogueiros independentes são todos petistas, indistintamente, e que recebem benesses do PT de forma direta ou indireta.

26 – Dizer que o Brasil é uma república sindicalista e portanto os sindicatos são todos pelegos e vivem às expensas do Estado brasileiro.

27 – Repetir o mantra neoliberal do Estado Mínimo, mesmo sabendo que até mesmo no maior país capitalista do mundo, os EUA, o Estado tem intervido na economia.

28 – As fotos publicadas de esquerdistas devem causar repulsa, ao contrário das dos representantes da direita.

29 – Ler diariamente a coluna do Merval em O Globo, assistir religiosamente a Míriam Leitão no Bom Dia Brasil, da Globo, e ouvir, com fervor, o comentário do Jabor na CBN. E repetir, em seus textos e conversas, todos os argumentos desenvolvidos por esses luminares da grande mídia brasileira.

30 – Insistir dia sim e outro também que a Dilma foi eleita pelos votos dos miseráveis analfabetos.

31 – Afirmar que Lula aparelhou o estado, nomeando os companheiros para os cargos públicos.

32 – Sempre que surgir qualquer fato negativo em alguma esfera de governo, mencionar com destaque se o partido responsavel for de esquerda ou algum aliado, caso contrario não mencionar o Partido

33 – Sempre fazer manchetes com uma segunda parte, mais ou menos assim: Governo tira 100% da miséria, mas ricos estão perdendo terreno.

34 – Afirmar que o Banco Panamericano recebeu recursos via Caixa a mando do Lula pra eleger a Dilma via SBT.

35 – Afirmar, categoricamente, que Dilma é a favor do aborto, que defende a morte, mas que a classe alta (por exemplo, mulher do Serra) pode fazer aborto – no Chile, é claro.

36 – Insinuar, em toda oportunidade que for possível, que o ex-presidente Lula tem falha de caráter, é alcoólatra e foi conivente com a corrupção.

37 – Para fazer futrica política entre Dilma e Lula, afirmar sempre que o governo Dilma é eficiente e discreto, ao contrário do governo do presidente Lula, que falava demais e não respeitava a liturgia do cargo.

38 - Afirmar sempre que o sonho de todo petista é censurar a impoluta, imparcial e magnânima mídia conservadora brasileira, esta sim a verdadeira defensora da democracia e dos interesses dos pobres, fracos e oprimidos do Brasil.

39 – No período das eleições para qualquer cargo, seja para prefeito, governador ou presidente, não ter a menor vergonha na cara e culpa de consciência de agir como militante político da direita, inclusive podendo transformar a redação e o meio de comunicação em comitê de campanha contra os petistas.

40 – Na eleições, dar todo o destaque a qualquer denúncia contra qualquer petista, de qualquer nível e transformar imediatamente o caso em escândalo político nacional; já se a denúncia for contra tucano ou demo, ignorar o assunto, por mais grave que seja, ou, se não der para esconder, dar algumas notinhas e sumir com o assunto da pauta o mais rápido.

41 – Nos temas mais técnicos ou polêmicos, mencionar a “opinião insuspeita” de “especialistas reconhecidos”; sempre e quando os tais “especialistas” tenham, exatamente, a mesma opinião do baronato da mídia e, de preferência, tenham vínculo notório e inegável com a oposição e o conservadorismo.

42 – Sempre esconder os crimes contra a Humanidade praticados semanalmente pelo Estado de Israel contra o Povo Palestino ao mesmo tempo em que retrata os israelenses como vítimas inocentes do povo árabe.

43 – Publicar documentos falsificados de petistas e argumentar que não pode garantir que sejam verdadeiros, mas tampouco comprovar que são falsos.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Com Palocci no Planalto, ortodoxos voltaram a ganhar força





Altamiro Borges, em seu blog


As decisões recentes do governo parecem indicar um triste regresso ao “malocismo” – uma mistura de Pedro Malan, czar da economia no reinado de FHC, e Antonio Palocci, czar da economia no primeiro mandato de Lula. Os seus efeitos poderão ser dramáticos, inclusive para a popularidade da presidenta Dilma.

A decisão da presidenta Dilma Rousseff de promover um corte cirúrgico de 50 bilhões no Orçamento da União confirma que os tecnocratas neoliberais estão com a bola toda no início do novo governo. Eles já bombardearam a proposta de aumento real do salário mínimo, aplaudiram a decisão do Banco Central de elevar a taxa de juros e, agora, festejam os cortes nos gastos púbicos. Tudo bem ao gosto das elites rentistas e para delírio da mídia do capital, que agora decidiu bajular a nova presidenta.

Na justificativa para o corte dos gastos, o ministro Guido Mantega, tão duro contra o sindicalismo na questão do salário mínimo, mostrou-se dócil diante do “deus-mercado”. Sem meias palavras, ele afirmou: “Nós estaremos revertendo todos os estímulos que fizemos para a economia brasileira entre 2009 e 2010... Nós já estamos retirando esses incentivos e agora falta uma parte deles que estão sendo retirados do Orçamento de 2011, que são os gastos públicos, que ajudaram a estimular a demanda”.

Um triste regresso ao “malocismo”?

Numa linguagem empolada, típica de quem esconde as maldades, Mantega argumentou que “este ajuste, esta consolidação fiscal, possibilitará que nós alcancemos o superávit primário” – outro termo que causa orgasmos nos banqueiros e rentistas. A União, explicou o ministro, já teria reservado “quase R$ 81,8 bilhões” somente para o pagamento dos juros – isto é, o dobro dos investimentos orçamentários destinados ao Plano de Aceleração do Crescimento, o PAC (de R$ 40,15 bilhões).

Na prática, as decisões recentes do governo parecem indicar um triste regresso ao “malocismo” – uma mistura de Pedro Malan, czar da economia no reinado de FHC, e Antonio Palocci, czar da economia no primeiro mandato de Lula. Os seus efeitos poderão ser dramáticos, inclusive para a popularidade da presidenta Dilma. De imediato, as medidas de elevação dos juros e redução dos investimentos representam um freio no crescimento da economia e, conseqüentemente, na geração de emprego e renda.

Suspensão de concursos e outras maldades

Além de reduzir o papel do Estado como indutor do crescimento, o corte drástico de R$ 50 bilhões no Orçamento da União terá impacto nos serviços públicos prestados à população. O governo já anunciou a suspensão dos concursos para a contratação de novos funcionários e protelou a nomeação de 40 mil servidores aprovados em seleções anteriores. Para Maria Thereza Sombra, diretora da Associação Nacional de Proteção e Apoio aos Concursados, estas medidas levarão ao “estrangulamento da máquina”.

Empolgado com a retomada de alguns dogmas neoliberais, O Globo diariamente dá manchete às medidas de “ajuste fiscal” do ministro Mantega. Na edição de 10 de fevereiro, o jornal festejou: “O corte de R$ 50 bilhões nas despesas do Orçamento de 2011 deixará alguns ministérios a pão e água”. No estratégico Ministério da Ciência e Tecnologia, por exemplo, o corte previsto é de R$ 1,3 bilhão. Até o sistema de vigilância ambiental, alardeado após a tragédia carioca das chuvas, corre sério risco de ser enterrado.

A ditadura do capital financeiro

Como se observa, as perspectivas no início do governo da presidenta Dilma Rousseff são preocupantes. Ainda é cedo para se fazer qualquer avaliação mais conclusiva, taxativa. Mas há indícios de que as velhas teses ortodoxas voltaram a ganhar força no Palácio do Planalto, sob o comando do todo-poderoso ministro Antonio Palocci. Na prática, a opção por retomar a desgastada ortodoxia neoliberal, com aumento dos juros e cortes dos investimentos, evidencia a força da ditadura financeira no Brasil.

Esta opção, porém, não tem nada de racional sob o ponto de vista dos trabalhadores. Foram exatamente as medidas heterodoxas de estímulo ao mercado interno, adotadas no segundo mandado de Lula, que evitaram que o país afundasse na crise mundial que abala o capitalismo desde 2008. Nas eleições de 2010, o povo votou na continuidade e no avanço daquele modelo econômico de desenvolvimento e não na regressão à ortodoxia neoliberal.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Atleta profissional com hipotireoidismo. De quem é a culpa ?



Fonte - Conversa afiada



Ronaldo, conhecido como Fenômeno, Ronalducho ou Bola Nove, responsabilizou o hipotireoidismo por sua aposentadoria.

O Conversa Afiada acredita que Ronaldo estava nos acréscimos desde a Copa de 2002.

Ronaldo em campo era deprimente.

O touro na arena segundos antes da estocada final.

Agora, a revelação bomba.

Ele sofre de hipotireoidismo.

E ele sabia da doença desde 2008.

Vamos supor que seja a absoluta verdade.

(Porque no futebol brasileiro, no Brasileirinho da Globo, urubu voa de costas.)

Quem permitiu que um doente de hipotireoidismo se submetesse à atividade de um atleta profissional ?

Uma coisa é malhar na academia para impedir que o hipotireoidismo aumente o peso.

Outra, muito diferente, é exigir que um doente como Ronaldo se submetesse à rotina de um touro de arena espanhola.

De quem é a culpa ?

Quem escondeu essa doença por três anos ?

O Ronaldo, para levar para casa uns últimos trocados ?

O Corinthians, para vender patrocínio e construir o estádio ?

Os patrocinadores ?

A Globo, que não podia viver sem o Ronaldo no Brasileirinho ?

(Agora, o futuro do Brasileirinho da Globo está nas mãos do pipoqueiro do Ronaldinho Gaúcho.)

Há nessa história do hipotireoidismo um crime e/ou uma omissão.

Houve crime e/ou omissão quando se suspeitou que Ronaldo ganhou massa muscular na Holanda com anabolizante ?

Afinal, Ricardo Teixeira, o que teve o Ronaldo três horas antes da decisão na Copa da França ?

Seria uma antecipação do hipotireoidismo ?

Veja, amigo navegante, o que provoca o hipotireoidismo:

Sintomas e sinais do hipotireoidismo

O hipotireoidismo é uma doença mais comum nas mulheres do que nos homens e sua freqüência aumenta com a idade.

A pele fica amarelada, seca e atrófica, com diminuição do suor e queda de pelos e cabelos. As unhas ficam frágeis e quebradiças. Nos casos avançados ocorre um inchaço generalizado que recebe o nome de mixedema, mas hoje em dia ele é muito raro.

No coração, a tiroxina comanda o número de batimentos por minutos (freqüência cardíaca). A falta da tiroxina faz com que o coração bata mais devagar. A falta do hormônio também faz com que o coração bata com menos força e, com isso, menos sangue é bombeado a cada contração.
A falta da tiroxina leva à sensação de cansaço, desânimo e fraqueza. Como o ritmo do metabolismo cai, o paciente fica lento e ganha peso. Pode aparecer anemia e as mulheres podem parar de menstruar. Aumenta a sonolência, a fala fica lenta e surge a sensação de frio. O ritmo do intestino também diminui e o paciente se queixa de obstipação intestinal (intestino preso). Outra queixa freqüente é a perda de memória.


Dá para ser o atacante do time mais popular de São Paulo, assim ?

Ronaldo encerou a carreira como o raging bull do Martin Scorsese, o touro indomável, domado pelo peso e a debilidade física.

De quem é a culpa ?

Em tempo: a coletiva do Ronaldo coincidiu com a exibição do programa Globo Esporte. Como diz o Datena, Ronaldo é uma afiliada da Globo.

Em tempo 2: leia no Brasil Econômico -pág 26 – “saída de Ronaldo põe em cheque o modelo do jogador ‘velho e caro’ “. Não seria melhor o “bom e barato” ?


Paulo Henrique Amorim







segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

A rebelião revolucionária no Egito




Fidel Castro:

Disse há vários dias que a sorte de Mubarak estava lançada e nem sequer Obama poderia salvá-lo. O mundo sabe o que acontece no Oriente Médio. As notícias circulam a velocidades vertiginosas. Os políticos correm atrás do tempo para ler os despachos que chegam de hora em hora. Todos estão conscientes da importância do que acontece ali.
Após 18 dias de uma dura batalha, o povo egípcio conquistou um objetivo importante: derrubar o principal aliado dos Estados Unidos no seio dos países árabes. Mubarak oprimia a saqueava seu próprio povo, era inimigo dos palestinos e cúmplice de Israel, a sexta potência nuclear do planeta, associada ao belicoso grupo da Otan.

As Forças Armadas do Egito, sob a direção de Gamal Abdel Nasser, havia lançado pela janela um rei submisso e criado a república que, com o apoio da União Soviética, defendeu sua pátria da invasão franco-britânica e israelense de 1956 e preservou a posse do Canal de Suez e a independência de sua nação milenar.

O Egito possui por isso um prestígio bastante elevado no Terceiro Mundo. Nasser era conhecido como um dos líderes mais destacado do Movimento de Países Não Alinhados, tendo participado de sua criação junto a outros conhecidos dirigentes da Ásia, África e Oceania, que lutavam pela libertação nacional e pela independência política e econômica das antigas colônias.

O Egito sempre gozou do apoio e do respeito de tal organização internacional, que reúne mais de cem países. Precisamente neste momento, o país preside o movimento pelo período que lhe corresponde de três anos. O apoio de muitos de seus membros à luta que seu povo realiza hoje não tardará a chegar.

Que significado tiveram os Acordos de Camp David e porque o heróico povo da Palestina defende de forma tão árdua seus direitos mais vitais?

Em Camp David — com a mediação do então presidente dos Estados Unidos Jimmy Carter —, Anwar el Sadat, então presidente do Egito e o primeiro ministro de Israel Menahem Begin assinaram os famosos acordos entre o Egito e Israel.

Conta-se que participaram de conversações secretas durante 12 dias e em 17 de setembro de 1978 assinaram dois acordos importantes: um referido à paz entre Egito e Israel e outro relacionado com a criação de um território autônomo na Faixa de Gaza e Cisjordânia, onde Sadat pensava — e Israel conheci e compartilhava da ideia — que seria a sede do Estado Palestino, cuja existência, assim como a do Estado de Israel, a Organização das Nações Unidas determinou em 29 de novembro de 1947, no que era o então mandato britânico da Palestina.

Após árduas e complexas negociações, Israel aceitou retirar suas tropas do território egípcio do Sinai, embora tenha rechaçado categoricamente a participação naquela negociação de paz dos representantes da Palestina.

Como produto do primeiro acordo, no prazo de um ano Israel reintegrou o território do Sinai ao Egito, ocupado em uma das guerras árabe-israelenses.

Por causa do segundo, ambas as partes se comprometiam a negociar a criação do regime autônomo na Cisjordânia e na Faixa de Gaza. A primeira compreendia um território de 5.640 quilômetros quadrados e 2,1 milhões de habitantes. A segunda, 360 km² e 1,5 milhão de habitantes.

Os países árabes se indignaram com aquele acordo que, como julgavam, o Egito não tinha defendido com suficiente firmeza e energia um Estado Palestino, cujo direito a existir havia sido centro as lutas livradas durante décadas pelos estados árabes.

A reação foi tão indignada que chegou ao extremo de romperem relações com o Egito. Dessa forma, a Resolução das Nações Unidas de novembro de 1947 foi apagada do mapa. A entidade autônoma jamais foi criada e assim se privava aos palestinos do direito de existir como estado independente, do qual se deriva a interminável tragédia que se vive e que deveria ter sido solucionada há mais de três décadas.

A população árabe da Palestina é vítima de ações genocidas: as suas terras são roubadas ou, nas regiões desérticas, privadas de água e as casas são destruídas com escavadeiras. Na faixa de Gaza, um milhão e meio de pessoas são sistematicamente atacadas com projéteis explosivos, fósforo e as conhecidas granadas de fragmentação. O território da Faixa de Gaza está bloqueado por terra, ar e mar. Por que se fala tanto dos acordos de Camp David e não se menciona a Palestina?

Os Estados Unidos fornecem anualmente os armamentos mais modernos e sofisticados para Israel, pelo valor de bilhões de dólares. O Egito, um país árabe, foi convertido no segundo receptor de armas americanas. Para lutar contra quem? Contra outro país árabe? Contra o próprio povo egípcio?

Quando a população exigia respeito por seus direitos mais elementares e a renúncia de um presidente cuja política consistia em explorar e saquear seu próprio povo, as forças repressoras treinadas pelos Estados Unidos não vacilaram em disparar contra ela, matando centenas de pessoas e ferindo milhares.

Quando o povo egípcio esperava explicações do governo de seu próprio país, as respostas vinham de altos funcionários dos órgãos de inteligência ou do governo dos Estados Unidos, sem respeito algum para com os funcionários egípcios.

Por acaso os dirigentes dos Estados Unidos e seus órgãos de inteligência não conheciam uma só palavra dos colossais roubos do governo de Mubarak?

Antes de que o povo protestasse em massa na praça Tahrir, nem os funcionários do governo, nem os órgãos de inteligência dos Estados Unidos diziam uma só palavra sobre os privilégios e roubos descarados de bilhões de dólares.

Seria um erro imaginar que o movimento popular revolucionário no Egito obedece teoricamente a uma reação contra as violações de seus direitos mais elementares. Os povos não desafiam a repressão e a morte nem permanecem noites inteiras protestando com energia por questões simplesmente formais. Eles fazem isso quando seus direitos legais e materiais são sacrificados sem piedade de acordo com as exigências insaciáveis de políticos corruptos e dos círculos nacionais e internacionais que saqueiam o país.

O índice de pobreza afetava a imensa maioria de um povo combativo, jovem e patriótico, agredido em sua dignidade, sua cultura e suas crenças.

Como poderiam ser conciliadas o aumento incessante dos preços dos alimentos com as dezenas de bilhões de dólares que são atribuídos ao presidente Mubarak, aos setores privilegiados do governo e da sociedade?

Não basta agora que sejam conhecidos os números da fortuna, é necessário exigir que ela seja devolvida ao país.

Obama está afetado pelos acontecimentos egípcios, age ou parece agir como dono do planeta. A questão do Egito parece ser assunto seu. Não para de falar com líderes de outros países.

A agência efe, por exemplo, informa: “... falou com o primeiro ministro britânico, David Cameron; o rei Abdalá II da Jordânia e com o premiê turco, Recep Tayyip Erdogan, islâmico moderado".

"... o governante dos Estados Unidos avaliou a 'mudança histórica' que impeliu os egípcios e reafirmou sua admiração pelos seus esforços...".

A principal agência de informação americana, AP, transmite declarações dignas de atenção:

"Os Estados Unidos pede governantes no Oriente Médio com inclinação ocidental, amistosos com Israel e dispostos a cooperar com a luta contra o extremismo islâmico, ao mesmo tempo que protejam os direitos humanos".

"…Barack Obama defende uma lista de requisitos ideais impossíveis de satisfazer após a queda dos aliados de Washington no Egito e na Tunísia em revoltas populares que, segundo especialistas, se propagarão na região".

"Não existe perfil com esse currículo de sonho e é muito difícil que apareça um pronto. Em parte se deve a que, nos últimos 40 anos, os Estados Unidos sacrificaram os ideais nobres dos direitos humanos, que tanto defendem, em troca da estabilidade, a continuidade e o petróleo em uma das regiões mais voláteis do mundo".

" 'O Egito não voltará a ser o mesmo', disse Obama na última sexta-feira, depois que celebrou a saída de Hosni Mubarak".

"Mediante seus protestos pacíficos, os egípcios 'transformaram seu país e o mundo'", disse Obama.

"Enquanto ainda persiste o nervosismo entre vários governos árabes, as elites encasteladas no Egito e na Tunísia não deram sinais de que estejam dispostas a ceder poder nem a vasta influência econômica que tiveram".

"O governo de Obama insistiu que a mudança não deveria ser de 'personalidades'. O governo americano tomou essa posição desde que o presidente Zine el Abidine Ben Ali fugiu em janeiro de Túnis, um dia depois que a secretária de Estado, Hillary Rodham Clinton, advertisse os governantes árabes em um discurso no Catar que sem uma reforma, os alicerces de seus países 'afundariam na areia'".

As pessoas não se mostraram muito dóceis na Praça Tahrir.

A Europa Press narra:

"Milhares de manifestantes chegaram à praça Tahrir, o epicentro das mobilizações que provocaram a renúncia do presidente do país, Hosni Mubarak, para reforçar os que continuam no local, apesar das tentativas da Polícia Militar de desalojá-las, segundo informou a cadeia britânica BBC."

"O correspondente da BBC que estava na praça cairota assegurou que o Exército está demonstrando indecisão diante da chegada de novos manifestantes..."

"O 'núcleo duro' (...) está situado em uma das esquinas da praça. (...) decidiram permanecer na Tahrir (...) para assegurar-se que todas as suas exigências sejam cumpridas".

Independente do que ocorra com o Egito, um dos problemas mais graves que enfrenta o imperialismo nesse instante é o déficit de cereais, que abordei na Reflexão de 19 de janeiro.

Os Estados Unidos emprega uma parte importante do milho que cultiva e um alto índice de sua colheita de soja para a produção de biocombustíveis. A Europa, por sua vez, emprega milhões de hectares de terra com essa finalidade.

Por outro lado, como consequência da mudança climática originada fundamentalmente pelos países desenvolvidos e ricos, está se criando um déficit de água doce e alimentos incompatível com o crescimento da população, a um ritmo que a conduziria a 9 bilhões de habitantes em apenas 30 anos, sem que a Organização das Nações Unidas e os governos mais influentes do planeta, depois das fracassadas reuniões de Copenhague e Cancun, tenham advertido e informado o mundo dessa situação.

Apoiamos o povo egípcio e sua valente luta por seus direitos políticos e pela justiça social.

Não estamos contra o povo de Israel, estamos contra o genocídio do povo palestino e a favor de seu direito a um Estado Independente.

Não somos a favor da guerra, mas sim a favor da paz entre todos os povos.

Fidel Castro Ruz, Havana, 21h14 de 13 de fevereiro de 2011

sábado, 12 de fevereiro de 2011

É preciso respeitar a decisão do povo de cada país”


Celso Amorim: “por Marco Aurélio Weissheimer, em Carta Maior

O embaixador Celso Amorim, ministro de Relações Exteriores do Brasil por mais de oito anos (dois mandatos do governo Lula e mais um período no governo Itamar Franco), iniciou a conversa telefônica, direto da embaixada do Brasil em Paris, chamando a atenção para a complexidade e o dinamismo do cenário internacional e para o baixo nível de conhecimento que se tem sobre a situação de muitos países. Em entrevista exclusiva à Carta Maior, concedida no início da tarde desta sexta-feira, Celso Amorim analisa os recentes acontecimentos no Oriente Médio e no norte da África e suas possíveis repercussões. Como que para ilustrar o dinamismo mencionado por Amorim, quando a entrevista chegou ao fim, Hosni Mubarak não era mais o presidente do Egito.

Na entrevista, o ex-chanceler brasileiro chama a atenção para o fato de que as revoltas populares que o mundo assiste agora, especialmente na Tunísia e no Egito, acontecem em países considerados “amigos do Ocidente” que não eram alvo de nenhum tipo de sanção por parte da comunidade internacional. “Isso mostra que a posição daqueles que defendem sanções contra o Irã é equivocada”, avalia. Amorim acredita que uma mudança política no Egito terá impacto em toda a região, cuja extensão ainda é difícil de prever. E defende a política adotada pelo Brasil nos últimos anos apostando na capacidade de diálogo do país, reconhecida e requisitada internacionalmente.

CARTA MAIOR: Qual sua avaliação sobre a rebelião popular no Egito e seus possíveis desdobramentos políticos e geopolíticos na região?

Celso Amorim: Uma primeira característica que considero importante destacar é que os protestos que estamos vendo agora são movimentos endógenos. É claro que eles se valem de novas tecnologias e de alguns valores modernos, mas são motivados pela situação interna destes países. O Egito e a Tunísia, cabe assinalar também, não estavam sob sanções por parte do Ocidente. Isso mostra que a posição daqueles que defendem sanções contra o Irã é equivocada. Sanções só reforçam internamente um regime. Uma das expectativas das sanções contra o Irã era atingir a Guarda Revolucionária. Na verdade, só atingem o povo. O Iraque foi submetido a sanções durante anos e Saddam só ficava mais forte. Não havia, repito, sanções contra a Tunísia e o Egito, países considerados amigos do Ocidente e aliados inclusive na guerra contra o terrorismo, implementada pelos Estados Unidos.

Acredito que uma mudança política no Egito terá certamente um impacto em toda região, podendo inclusive provocar uma mudança de relacionamento com países como Israel e Síria. Mas isso dependerá da evolução dos acontecimentos.

CARTA MAIOR: A sucessão de acontecimentos semelhantes em países do Oriente Médio e do Norte da África já pode ser considerada como uma onda capaz de expandir para outros países também?

Celso Amorim: Potencialmente, sim. Mas é difícil prever. Depende dos desdobramentos do Egito. Não há dúvida que Mubarak sairá [enquanto concedia a entrevista, a renúncia do ditador egípcio foi confirmada]. A questão é saber como ele sairá. Certamente haverá uma mudança no regime político do Egito. Não sabemos ainda em que intensidade. Mas é importante ter em mente que as duas forças organizadas no país são as forças armadas e a Irmandade Islâmica. A Irmandade Islâmica não é nenhum bicho papão. Cabe lembrar que muita gente tem citado a Turquia (que tem um partido islâmico no poder) como um modelo de caminho possível para o Egito.

A influência dos acontecimentos no Egito deve se manifestar em ritmos e intensidades diferentes, dependendo da realidade de cada país. Como a Tunísia nos mostrou, é preciso esperar o inesperado.

CARTA MAIOR: A diplomacia ocidental foi pega de surpresa por esses episódios?

Celso Amorim: Certamente que sim. O próprio presidente Obama admitiu isso ao falar dos relatórios dos serviços de inteligência dos Estados Unidos. Ninguém estava esperando o que aconteceu na Tunísia que acabou servindo de estopim para outros países como Yemen e Egito. Nos mais de oito anos que trabalhei como chanceler nunca ouvi uma palavra de crítica sobre a Tunísia. E alguns conceitos fracassaram. Entre eles o de que se o país é pró-ocidental é necessariamente bom. Os Estados Unidos seguem poderosos no cenário internacional, mas frequentemente superestimam essa influência.

Há algumas lições a serem tiradas destes episódios. A primeira delas é que é preciso respeitar os movimentos internos e não querer impor mudanças a partir de fora. As revoltas que vemos agora (na Tunísia e no Egito) iniciaram dentro destes países contra governos pró-ocidentais e não nasceram com características antiocidentais ou anti-imperialistas.

CARTA MAIOR: O Oriente Médio é hoje uma das regiões mais conflituosas do planeta. Os levantes populares que estamos vendo podem ajudar a melhorar esse quadro?

Celso Amorim: Creio que teremos agora um quadro mais próximo da realidade. Há uma certa leitura simplificada do Oriente Médio que não leva em conta o que o povo desta região pensa. Não é possível ignorar a existência de organizações como a Irmandade Islâmica ou o Hamas. Se ignoramos fica muito difícil traçar uma estratégia que leve a uma paz estável.

CARTA MAIOR: O jornalista israelense Gideon Levy escreveu ontem no Haaretz dizendo que o Oriente Médio não precisa de estabilidade, referindo-se de modo à crítica à suposta estabilidade atual, que seria, na verdade, sinônimo de pobreza, desigualdade e injustiça. Qual sua opinião sobre essa avaliação?

Celso Amorim: De fato, a desigualdade social é uma das causas muito fortes dos problemas que temos nesta região. É um fermento muito grande para revoltas. A verdadeira estabilidade não se resume a ter um determinado governante no poder. Não basta ter eleição. É preciso aceitar o resultado da eleição. Estamos falando de uma região muito complexa, com sentimentos anticoloniais muito fortes. Esse quadro exige uma flexibilidade muito grande e capacidade de diálogo com diferentes interlocutores.

CARTA MAIOR: Qual sua análise sobre a evolução dos acontecimentos no Oriente Médio à luz da política externa praticada durante sua gestão no Itamaraty?

Celso Amorim: Como referi antes, nós procuramos manter uma relação ampla com diferentes interlocutores. As críticas que sofremos vieram mais da mídia brasileira do que de outros países. Nossa política em relação ao Irã, por exemplo, não foi para mudar esse país. O objetivo era contribuir para a paz, tentando encontrar uma solução para a questão nuclear. Quem mudou de ideia no meio do caminho foram os Estados Unidos. O próprio El Baradei (ex-diretor geral da Agência de Energia Atômica), que agora voltou a cena no Egito, chegou a dizer, comentando a Declaração de Teerã, que quem estava contra ela é porque, no fundo, não aceitava o sim como resposta.

Acredito que nós precisamos de países com capacidade de ver o mundo com uma visão menos maniqueísta. Agora, todo mundo está chamando Mubarak e Ben Ali de ditadores. Até bem pouco tempo não era assim. A maioria da imprensa internacional não os chamava de ditadores. O importante é saber respeitar a vontade e a decisão do povo de cada país. O Brasil tem essa capacidade reconhecida mundialmente. Várias vezes fomos requisitados para ajudar na interlocução entre países. O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, por exemplo, nos pediu para ajudar a retomar o diálogo com a Síria. O Brasil tem essa capacidade de diálogo que não demoniza o outro. Essa é a pior coisa que pode acontecer na relação entre os países: demonizar o outro. Não se pode, repito, ignorar a presença da Irmandade Islâmica ou do Hamas. Podemos não gostar destas organizações. Isso é outra coisa. Mas estamos que estar prontos para conversar.
Espero que o Brasil faça jus às expectativas que existem sobre ele, sobre sua capacidade de diálogo e interlocução. Não se trata de mania de grandeza. Nós temos essa capacidade de diálogo e ela é requisitada. Seguramente o Brasil tem a possibilidade, e eu diria mesmo a necessidade, de ter essa participação e ajudar a construir a paz. Até porque esses fatos nos afetam diretamente. Basta ver o preço do petróleo que está aí aumentando em função dos conflitos.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

política econômica conservadora impede a valorização do mínimo




Wagner Gomes - Portal CTB

O pano de fundo da batalha política em curso sobre o novo valor do salário mínimo é a política econômica conservadora, na opinião do presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Wagner Gomes. “É em nome dela que se nega o aumento real”, argumenta o sindicalista em entrevista concedida nesta quarta-feira (9) ao "Vermelho".

O dirigente sustenta que as centrais não vão recuar. “Já que a presidente Dilma fechou as portas à negociação do tema vamos pressionar o Congresso e intensificar a mobilização das bases”, afirmou. Na próxima terça-feira (15), os sindicalistas prometem realizar uma concentração no auditório Nereu Ramos da Câmara Federal, em Brasília, pelo mínimo de R$ 580 (o governo propõe R$ 545). No mesmo dia, o presidente da CTB vai se reunir com as bancadas do PSB e PCdoB no Congresso para esclarecer a posição das centrais e pleitear a solidariedade dos parlamentares à luta dos trabalhadores.

entrevista:

O que levou o governo a encerrar as negociações com as centrais sobre o salário mínimo?

Wagner Gomes: A avaliação que a CTB e também as outras centrais fazem é que a equipe econômica do governo Dilma prioriza o pagamento de juros em vez de investir na produção, no crescimento e na valorização do salário mínimo. Nós estamos convencidos de que a raiz do problema é este, ou seja, é a política econômica baseada no superávit primário, câmbio flutuante e juros altos que colide com as demandas dos sindicatos. Os juros consomem mais de um terço do orçamento público e como a verba é limitada o governo corta outras despesas para encher o bolso dos rentistas. O salário mínimo entra nesta conta, mas os problemas não ficam aí. A política econômica conservadora joga contra o desenvolvimento nacional e pode levar o país à estagnação.

E existe alternativa? Qual a proposta do movimento sindical?

WG: O governo, os economistas ligados ao sistema financeiro e a mídia dizem que não há alternativa, é este o pensamento dominante, a ideologia do mercado apresentada como verdade absoluta. Nós não concordamos. Sabemos que existem alternativas. É notório, por exemplo, que em muitos países a taxa de juros é bem mais baixa que no Brasil, que pratica os juros reais mais altos do mundo. A China e outras nações controlam o câmbio e o fluxo de capitais. A atual política econômica ainda tem um forte viés neoliberal e não é racional. A única explicação plausível para sua manutenção são os interesses da oligarquia financeira, pois ela privilegia os credores. Defendemos a mudança da política econômica, com redução das taxas de juros, fim do superávit primário, controle do câmbio e do fluxo de capitais, incluindo remessas de lucros e dividendos. Entendemos que a valorização do trabalho, e especialmente do salário mínimo, é essencial. A experiência dos últimos dois anos evidenciou o papel notoriamente positivo do aumento real do salário mínimo para o crescimento econômico. Todos reconhecem hoje que a valorização do mínimo contribuiu decisivamente para amortecer os impactos da crise mundial do capitalismo no Brasil, pois fortaleceu o mercado interno e compensou, em grande medida, a dramática queda das exportações.

Representantes do governo alegam que as centrais estão rompendo o acordo em torno da política de valorização do mínimo, que reajusta o salário de acordo com a evolução do PIB de dois anos atrás. Uma vez que não teve crescimento em 2009 não se justificaria aumento real.

WG: É uma cortina de fumaça. O problema não é o acordo, mesmo porque o ex-presidente Lula e a presidente Dilma prometeram pessoalmente às seis centrais que em 2011 haveria um aumento real do mínimo, apesar da estagnação do PIB em 2009. Este acordo verbal ocorreu durante a campanha, em São Paulo, no dia 13 de outubro de 2010, em São Miguel Paulista. A verdade é outra. É a política econômica conservadora que impõe cortes no orçamento e impede a valorização do salário mínimo [o ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou hoje redução de R$ 50 bilhões nos gastos públicos].

A política econômica conservadora não começou com Dilma, mas imaginávamos que o novo governo seria mais sensível à necessidade de mudança neste terreno. Infelizmente, não é o que se verifica.

Quais os próximos passos nesta luta?

WG: Uma vez que o governo fechou as portas à negociação vamos para o Congresso fazer a disputa política. Acredito que o salário mínimo é um divisor d´água e que não é apenas um problema sindical. A peleja em torno do seu valor em 2011 revela o caminho que o governo pretende seguir e com o qual não concordamos, somos contra. Nossa luta não se resume ao mínimo. Queremos uma política econômica que prioriza a produção, o desenvolvimento e a distribuição de renda. Batalhamos por um novo projeto nacional de desenvolvimento, com soberania, democracia e valorização do trabalho.

Na terça-feira (15), a convite da deputada Ana Arraes (PSB-PE), debaterei o tema com a bancada do Partido Socialista na Câmara Federal. Depois pretendo conversar com os deputados do PCdoB. No mesmo dia, as seis centrais realizarão uma concentração no auditório Nereu Ramos para pressionar os parlamentares. Vamos intensificar o processo de mobilização e conscientização das bases, que já foi deflagrado com as paralisações promovidas pelos metalúrgicos de São Paulo. Uma coisa é certa. A luta continua. Não vamos capitular à pressão do Planalto.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Minas diz não à lei tucanão


Artigo: Gilson Reis

Ao relembrar a história brasileira, nos deparamos com ditaduras e períodos de grande angústia e incertezas. Momentos em que a jovem democracia foi destituída de seus propósitos republicanos e transgredida pela ação política, ideológica e jurídica com viés fascista. Ainda hoje lutamos para reescrever nossa história, enterrar nossos mortos e fazer justiça para punir aqueles que, amparados pelo estado policial, prendeu, torturou e assassinou milhares de brasileiros e brasileiras.


O objetivo não é fazer um resgate da história, mas apenas relembrar que são nesses momentos de totalitarismo e de ausência de democracia que leis são impostas pelo poder executivo, ferindo o poder legislativo e a normalidade institucional vigente. A prática é utilizada em larga escala nos momentos de ausência de liberdade, como forma de impor uma posição autoritária e anti-democrática.

Foi assim em dezenas de decretos de leis autorgados pela ditadura Vargas e pela ditadura militar. Quem não se lembra da Lei Falcão, que restringiu o processo eleitoral de 1974 como forma de proteger e alongar o regime militar. Quem não se lembra do AI5, que suspendeu a Constituição de l946, dissolveu o Congresso brasileiro, suspendeu as liberdades democráticas individuais, alterou o Código de Processo Penal, entre outras medidas.

Dizem os autocráticos que a elaboração de leis patrocinadas pelo executivo é necessária para garantir a ordem e dar proteção ao Estado contra a deteorização do poder legislativo. Não me consta que Minas e o Brasil vivam nesse momento da história qualquer crise institucional. Muito pelo contrário. Vivemos o momento mais longo de estabilidade política da República.

Porém, vivenciamos em Minas Gerais, nos últimos anos de hegemonia tucana com Aécio Neves e a atual gestão de Antônio Anastasia, a prática autoritária de elaborar leis delegadas à revelia da população e com a anuência da base parlamentar do governo na Assembleia Legislativa, tornando-se uma prática comum. A submissão e omissão de parte dos deputados estaduais eleitos em outubro, em plena normalidade e ordem institucional, é um absurdo intolerável.

O absurdo é ainda mais evidente quando analisamos as leis delegadas autorgadas pelo governo mineiro e descobrimos quais os verdadeiros objetivos presentes em suas entrelinhas. Não pretendo analisar as dezenas de leis delegadas aprovadas pelo governador Aécio Neves ao longo de oito anos, mas decifrar as propostas apresentadas pelo atual ocupante do Palácio Tiradentes.

São sete as leis delegadas propostas pelo governador Anastasia. Cada uma das leis é acompanhada de centenas de artigos. Pela sua extensão e profundidade não pretendo analisar a totalidade das propostas, mas indicar algumas das diretrizes que considero perigosas e injustificáveis.

Primeiro: a contratação de 1,3 mil cargos de confiança do governador. Conforme analistas do próprio estado, o custo anual dessas contratações está estimado em 55 milhões de reais.

Segundo: a criação de escritórios políticos do governo de Minas em Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo. Os escritórios terão estruturas física e humana compatíveis com verdadeiros comitês eleitorais.

Terceiro: O governo de Minas criará mais seis secretarias de Estado para ajustar os compromissos de campanha com os aliados, transformando a administração pública num verdadeiro cabide de emprego.

Quarto: O governo de Minas constituirá em seu gabinete uma poderosa estrutura de governo paralelo, ou seja, um governo dentro do governo, para tratar de assuntos estratégicos e que envolvem grandes cifras de recursos.

Essas quatro diretrizes estão presentes nas leis delegadas propostas pelo governador Anastasia. Está contida nelas de forma explícita uma estratégia política que ultrapassa a governalidade de Minas Gerais e mira a sucessão presidencial de 2014. O governador, aliado de Aécio, sob o olhar complacente da maioria dos deputados estaduais e envolto num profundo silêncio da mídia mineira, dá início aos primeiros movimentos para consolidar a candidatura do neto de Tancredo Neves à presidência da República.

O povo mineiro não pode permitir que o governador Antonio Anastasia utilize recursos públicos para contratar cabos eleitorais, estrutura de campanha, inchar a máquina do Estado para acomodar aliados e criar estrutura de governo paralelo para facilitar possíveis esquemas.

Minas disse não à lei Falcão e dirá não a lei tucanão!

Pelo fim das leis delegadas, pelo fim de governos autocráticos, pela liberdade e transparência na vida política de Minas.


sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Educação Superior



Censo do MEC mostra que média de alunos por professor no ensino superior privado é maior que a do público
Em 2009, o Brasil registrou 2.314 Instituições de Ensino Superior (IES), com um número médio de alunos por professor de 17,4. É o que mostram os dados do Censo da Educação Superior de 2009, divulgado nesta quinta-feira (13) pelo Ministério da Educação (MEC). Nas universidades públicas, a média é de 12,39 graduandos para cada docente, enquanto no setor privado essa relação é superior a 20.

Do total de IES, 89,4% são privadas e 10,6% públicas. Esse total é 2% superior ao verificado em 2008. O crescimento foi maior no setor público (3,8%) do que no privado (2,6%).

Há um total de 307 mil professores no ensino superior do país, sendo 36% mestre e 27% doutores. A proporção de mestres e doutores no corpo docente das instituições é maior entre as públicas (75%) do que entre as privadas (55%). Nas IES públicas, quase metade dos professores (48%) é formada por doutores; nas particulares, a maior concentração é de mestres (41%).

O professor da instituição privada é em geral jovem, com média de 34 anos, com mestrado e recebe por hora/aula. Já o docente da universidade pública tem em média 44 anos, é doutor e o regime de trabalho é em período em integral. Nos dois setores, o sexo predominante é o masculino.


Matrículas nas públicas caíram 2% em 2009
As matrículas nas universidades públicas caíram 2% de 2008 para 2009, passando de 1.552.953 para 1.523.864. Os números mostram um total de 5, 9 milhões de matrículas no ensino superior (público e privado) no País – 2,5% a mais do que no ano anterior.

De acordo com o ministro da Educação, Fernando Haddad, essa queda tem ligação com uma mudança metodológica do censo, que tornou os resultados mais precisos. “É preciso verificar universidade por universidade. Havia uma inflação de matrículas. Detectamos várias universidades que informavam no censo alunos que tinham trancado matrícula ou já tinham deixado a instituição”, justificou.

A queda no número de estudantes nas instituições públicas se deu essencialmente nas universidades estaduais e municipais. Haddad ressaltou que o fechamento da Fundação Universidade do Tocantins (Untins), instituição que pertencia ao sistema estadual, com 75 mil alunos, também teve impacto nessa redução, assim como a migração de algumas universidades estaduais de Minas Gerais para o sistema privado.

Nas federais, entretanto, houve um crescimento de 20% no total de matrículas de 2008 para 2009. Nos estabelecimentos privados, o aumento foi de 4%.

A maioria (63,8%) das instituições de ensino superior (IES) do País é de pequeno porte, com até mil alunos matriculados. Os dados mostram que há uma grande concentração de matrículas em poucos estabelecimentos de ensino: 1.171 IES – 5,1% do total - detêm 48,9% dos alunos.


Resultado insatisfatório
Das 2.137 IES avaliadas em 2009 pelo MEC, quase 40% obtiveram resultados insatisfatórios, de acordo com os dados do Índice Geral de Cursos (IGC), divulgados nesta quinta-feira junto com o Censo. O indicador avalia uma faculdade, centro universitário ou universidade a partir da qualidade de seus cursos de graduação e pós-graduação, em uma escala de 1 a 5. Os resultados 1 e 2 são considerados insatisfatórios; 3, razoável; e 4 e 5, bons.

Do total de instituições avaliadas, 12 obtiveram nota 1, a menor possível. Elas já estão submetidas a um processo de supervisão. Assim que tiver início o semestre letivo, as instituições serão visitadas por comissões de avaliadores do MEC e podem ser descredenciadas ou assinar termos de compromisso para sanar as deficiências encontradas. As 12 faculdades com nota 1 representam 0,67% do total avaliado e as que receberam nota 2, 38,32%.

Todas as instituições de ensino superior com IGC inferior a 3 serão visitadas pela comissão de supervisão do MEC. Esse grupo formado por especialistas analisa as condições da oferta de ensino considerando o regime de trabalho e a titulação do corpo docente, a infraestrutura e os projetos pedagógicos. A partir desse diagnósticos poderá ser firmado um termo de compromisso com medidas para superar as deficiências, entre elas a redução de vagas ou a suspensão de novos ingressos. Em último caso, se essas orientações não forem observadas, a instituição pode ser descredenciada.

A maior parte (52,7%) das IES avaliadas obteve conceito 3, considerado razoável. Apenas 25 universidades podem ser consideradas de excelência, com nota 5 – 1,39% do total avaliado. As IES com nota 4, também desempenho considerado satisfatório, representam apenas 6,92%.

Na avaliação do ministro Fernando Haddad, há um movimento positivo para melhorar a qualidade do ensino superior, inclusive no setor privado. “Os avaliadores que fazem a visita in loco são testemunhas de que nossas instituições estão melhorando, buscando resultados, oferecendo condições de infraestrutura mais adequadas. As exceções têm que ser trabalhadas dentro do Sinaes [Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior] com as penalidades previstas em lei”, defendeu.

De acordo com o ministro, as IES não podem mais utilizar o preço da mensalidade como estratégia para atrair o aluno. “Não adianta capturar o estudante pelo prelo porque o Estado vai interferir [se a qualidade for ruim] e descredenciá-lo. Não queremos essa competição [de quem oferece o menor preço]. O Sinaes está produzindo efeitos positivos”, disse.

Há ainda 344 IES sem conceito, que representam 16,1% do total. Um estabelecimento de ensino fica sem conceito quando a amostra de alunos ou cursos participantes das avaliações que compõem o IGC é considerada insuficiente.

Fonte: Contee




quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Emir Sader: a crise da hegemonia ocidental no Oriente Médio



Emir Sader:
Fonte - vermelho.


a crise da hegemonia ocidental no Oriente Médio

A hegemonia do capitalismo no mundo se assentou na industrialização, que promoveu sua superioridade econômica, com todos os seus outros desdobramentos – tecnológicos, culturais, políticos. Esse processo se apoiou centralmente no petróleo como fonte energética, sem que a Europa ocidental – seu núcleo original – pudesse contar com petróleo.

Por Emir Sader, em seu blog
A hegemonia norte-americana consolidou o estilo de consumo da civilização do automóvel – a mercadoria por excelente do capitalismo norte-americano –, que acentuou o papel do consumo de petróleo. Embora os EUA tivessem petróleo, seu gasto excessivo fez com que suas fontes se aproximassem cada vez mais do esgotamento, além de que o montante que sempre precisaram os fez se somarem aos países que dependem da importação do petróleo.

Estava assim inscrito no estilo de vida ocidental, a dominação dos países árabes, para dispor de petróleo a preços baratos. Esse esquema encontrou seu primeiro grande obstáculo com o surgimento de regimes nacionalistas, em países fundamentais na região, como o Egito e o Irã. Os problemas convergiram na crise de 1973, em que se uniram o aumento do preço do petróleo com a reivindicação do Estado palestino e a oposição ds governos árabes unidos a Israel.

Diante da crise, os EUA passaram a operar em duas direções: intensificar os conflitos que dividissem o mundo árabe – como a guerra Iraque-Irã – e buscar formas de conseguir a presença permanente de tropas norte-americanas na região – obtida a partir da primeira guerra do Iraque.

O enfraquecimento dos governos árabes e da sua unidade interna foi acompanhada da cooptação do governo do Egito – depois da morte de Nasser, primeiro com Sadat (o primeiro a normalizar relações com Israel) e depois com Mubarak, o que fez desse pais o aliado fundamental dos EUA no mundo árabe, recebendo a segunda maior ajuda militar de Washington no mundo, logo atrás de Israel.

A diversificação das fontes de energia – com a importação de gás da Rússia – alivia um pouco a demanda de petróleo, mas incorpora a dependência de um país que tampouco aparece como confiável para a Europa. Mais seguro é o controle politico e militar da região pelos EUA, como garantia para a Europa. Os países europeus não participaram das guerras do Iraque – com exceção da Inglaterra -, mas as financiaram, pelos serviços que os EUA lhes prestam.

A eventual perda do Egito como eixo do controle político da região seria gravíssimo para os EUA – além da queda do ditador aliado na Tunísia e outros desdobramentos em países com governos similares na região. Além de que poderia contribuir decisivamente para romper o isolamento de Gaza, liberando a entrada via Egito, até aqui tão bloqueada como aquela controlada por Israel.

A impotência norte-americana diante das formas tradicionais de intervenção militar confirma a decadência da hegemonia dos EUA, nesse caso em uma região e em um país chaves para seu sistema de dominação. Está claro que Obama já abandonou a possibilidade de sobrevivência de Mubarak, concentrando-se agora numa transição que permita a cooptação de quem vier a sucedê-lo. É um tema aberto, que pelo menos revela que a alternativa aos regimes ditatoriais da região não reside obrigatoriamente em forças islâmicas – argumento utilizado na lógica do mal menor de apoio a esses ditadores.

Em condições culturais renovadas, o nacionalismo árabe pode renascer, agora articulando uma nova unidade de governos progressistas, anti-EUA e pró-palestinos na região — a pior das possibilidades para Washington —, mas plenamente possível, pela intervenção espetacular dos povos desses países.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

FMI: padrão pré-crise de desequilíbrios globais está voltando



A economia mundial começou a melhorar, mas está cercada de problemas como o alto desemprego e os preços em alta, o que pode aumentar o protecionismo e problemas sociais, disse o diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI) nesta terça-feira (1). "O padrão pré-crise de desequilíbrios globais está surgindo de novo", afirmou Dominique Strauss-Kahn.
A alta dos preços de alimentos e combustíveis nos últimos meses já afetou as nações mais pobres e é um dos fatores por trás dos protestos antigoverno no Egito e na Tunísia, cujo presidente foi deposto no mês passado.

"À medida que as tensões aumentam entre países, nós podemos ver um protecionismo crescente - de comércio e finanças. E, à medida que as tensões aumentam dentro de países, nós podemos ver uma instabilidade social e política crescente dentro das nações - inclusive gueras", disse Strauss-Kahn.

O diretor-gerente citou dois desequilíbrios "perigosos" que, segundo ele, podem dar origem a uma próxima crise. O primeiro é a recuperação desigual entre países, com nações emergentes crescendo muito mais rápido que as economias desenvolvidas e possivelmente superaquecendo. O segundo são as tensões sociais em países com desemprego elevado e desigualdade crescente de renda.

Ao longo da próxima década, 400 milhões de jovens entrarão na força de trabalho mundial, desafiando os governos, acrescentou Strauss-Kahn. "Nós enfrentamos a perspectiva de uma 'geração perdida' de jovens, destinados a sofrer suas vidas inteiras com desemprego e condições sociais piores. Criar empregos precisa ser uma prioridade não só em economias avançadas, mas também em países mais pobres".

Apesar do alto desemprego após a crise global de 2008, as barreiras comerciais não atingiram os níveis temidos por muitos analistas. Ao invés disso, uma série de países, especialmente a China, buscam manter suas moedas desvalorizadas para ajudar as exportações nacionais.

"O padrão pré-crise de desequilíbrios globais está surgindo de novo", afirmou Strauss-Kahn. "O crescimento nas economias com amplos déficits externos, como os Estados Unidos, ainda é guiado pela demanda doméstica. E o crescimento em economias com amplos superávits externos, como China e Alemanha, ainda está sengo guiado pelas exportações".

Strauss-Kahn disse que o FMI prevê um crescimento modesto, de 2,5%, em economias avançadas neste ano, com o desemprego e a dívida prejudicando a demanda doméstica. Os países emergentes cresceriam 6,5%, com a região da Ásia excluindo o Japão crescendo 8,5%, segundo ele.

Com informações da Reuters